segunda-feira, 8 de junho de 2015






O espírito da Comunidade

Pertencente à longa tradição beneditina segue a Regra de São Bento como mestra de vida monástica. Conforme entendiam os monges na Idade Média, interpretando o espírito da Regra, o lema de São Bento podia ser resumido pelo “ora et labora” – ora e trabalha. Acrescenta-se a esse lema “et legere”, ou seja, “e leia”, uma vez que, para São Bento, a leitura tem um espaço privilegiado na vida do monge, em especial a leitura das Sagradas Escrituras. Em vista disso, o ritmo da vida no mosteiro favorece o justo equilíbrio, temperando os momentos de trabalho (corpo), com a leitura (alma) e a oração (espírito).
Essa máxima da vida beneditina vem ao encontro daquela aspiração primeira e fundamental da vida monástica: uma vida de total entrega a Deus. Renunciando tudo quanto o separa de Deus, o monge procura alcançar a meta da vida contemplativa. A purificação do coração, nesse sentido, é a melhor expressão dessa busca, pois, como nos diz Jesus no Sermão da Montanha: "Felizes os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8).
Com a assistência do Espírito de Deus, os monges procuram viver o ideal de vida há muito preconizado na Igreja, como um verdadeiro dom de Deus. Jesus Cristo – crucificado, morto e ressuscitado para nossa salvação e manifestação perfeita do amor de Deus – é o maior ideal dos monges, o qual eles devem sempre ter diante dos olhos, dia e noite. A obediência, humildade e espírito abnegação de Cristo inspiram sua conduta, e o amor de que nutrem por ele os orienta a assumi-lo como seu único Senhor, cuja comunhão de vida lhes garante as maiores recompensas espirituais.

A liturgia

Na tradição beneditina, os momentos de oração em comum são caracterizados pela celebração da liturgia católica: a recitação do Ofício Divino, ou Liturgia das Horas, e a participação na Santa Missa. O zelo pela oração em comum fez com que os mosteiros fossem conhecidos pela liturgia bem celebrada.

O trabalho

Como era o desejo de São Bento, os monges deveriam encontrar no Mosteiro o seu sustento, de tal maneira que evitassem a saída habitual dos claustros monásticos. O necessário resguardo do coração é observado por meio de algumas medidas concretas, como a reserva em mudar-se de mosteiro ou sair sem motivos plausíveis de seu ambiente de recolhimento e oração. Por isso, suas atividades são normalmente realizadas no âmbito do próprio mosteiro.
Os trabalhos realizados podem variar de acordo com as condições do lugar ou do momento. Pode-se dizer que, ao longo da história, os monges beneditinos desempenharam uma gama bastante vasta de tarefas, desde os trabalhos, assim chamados, mais humildes, como a limpeza dos recintos e o cultivo da terra, como os administrativos e intelectuais. Na maioria das vezes, cada monge desempenha diversas atividades no mosteiro.

A disciplina

São Bento não escreveu uma regra que primasse pelo rigor ascético nas observâncias cotidianas. Antes de tudo, o monge chega ao cume das virtudes e da contemplação de Deus por meio de uma vida de sobriedade e humildade. Deus se revela às almas simples que o procuram na sinceridade e generosidade do coração.
Com isso, São Bento diferia do espírito de seu tempo. Um número maior de pessoas podiam ingressar na vida monástica. Seu objetivo era que no mosteiro os fortes encontrassem o que desejam e que os fracos não fujam. Orienta os monges com habitual docilidade: "Se aparecer alguma coisa um pouco mais rigorosa, ditada por motivo de eqüidade, para emenda dos vícios ou conservação da caridade, não fujas logo, tomado de pavor, do caminho da salvação, que nunca se abre, senão por estreito início." (RB Prol,47s)

A hierarquia



O regimento interno de um mosteiro beneditino é muito simples. Pode-se resumi-lo na organização de uma vida em comunidade sob uma Regra e um Abade. A pessoa do Abade faz às vezes do pai espiritual e do superior na comunidade. São Bento lhe reserva dois capítulos da Regra. O Abade deve saber do difícil encargo que recebeu: servir aos temperamentos de muitos, moderar entre o pio afeto de um pai e o rigor de um mestre e, sobretudo, procurar antes ser amado do que temido.