domingo, 4 de novembro de 2007

Pronunciamentos do Santo Padre João Paulo II.

Il Signore è mia luce e mia salvezza, di chi avrò paura? Il Signore è difesa della mia vita, di chi avrò timore? Ascolta, Signore, la mia voce. Io grido: Abbi pietà di me! Rispondimi. Di te ha detto il mio cuore: "Cercate il suo volto"; il tuo volto, Signore, io cercherò.Non nascondermi il tuo volto, non respingere con ira il tuo servo. Sono certo di contemplare la bontà del Signore nella terra dei viventi. Spera nel Signore, sii forte, si rinfranchi il tuo cuore e spera nel Signore. Sì, spera nel Signore.


+Salmo 26 (27)Parrocchia di San Roberto Bellarmino ai Parioli, Roma, 2 marzo 1980 .






ABBÀ PATER




Attende, Domine, et miserere, quia peccavimus tibi.Liturgia quaresimaleNon enim accepistis spiritum servitutis sed accepistis spiritum adoptionis filiorum in quo clamamus.






Romani 8,15 ‡ Tu sei mio figlio, io oggi ti ho generato.


Salmo 2,7Io gli sarò Padre ed Egli mi sarà Figlio.


2 Sam 7,14 Sono parole profetiche: esse parlano di Dio, che è Padre nel senso più alto e più autentico della parola. Dice Isaia:"Signore, tu sei nostro Padre: noi siamo argilla e tu Colui che ci dà forma; tutti noi siamo opera delle tue mani". ‡Isaia 64,8Shema Israel!


‡Sion ha detto: "Il Signore mi ha abbandonato, il Signore mi ha dimenticato". Si dimentica forse una donna del suo bambino? Anche se ci fosse una donna che si dimenticasse, io invece non ti abbandonerò mai. ‡Isaia 49,14-15


Shema Israel!


‡È significativo che nei brani del profeta Isaia la paternità di Dio si arricchisca di connotazioni che si ispirano alla maternità.Gesù annuncia molte volte la paternità di Dio nei riguardi degli uomini riallacciandosi alle numerose espressioni contenute nell'Antico Testamento. Per Gesù, Dio non è solamente il Padre d'Israele, il Padre degli uomini, ma il Padre suo, il Padre mio.


Udienza generale, Città del Vaticano, 16 ottobre 1985Pater noster qui es in coelis, sanctificetur nomen tuum. Adveniat regnum tuum, fiat voluntas tua, sicut in coelo et in terra. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostri, et ne nos inducas in tentationem, sed libera nos a malo.


‡Matteo 6,9-13 San Pietro, Roma, 22 marzo 1995.






De todas já feitas, a mais bela!




LA LEGGE DELLE BEATITUDINI




‡Beati i poveri in spirito, perché di essi è il regno dei cieli.


Beati gli afflitti, perché saranno consolati.Beati i miti, perché erediteranno la terra.


Beati quelli che hanno fame e sete di giustizia, perché saranno saziati.


Beati i misericordiosi, perché troveranno misericordia.


Beati i puri di cuore, perché vedranno Dio.


Beati gli operatori di pace, perché saranno chiamati figli di Dio.


Beati i perseguitati per causa della giustizia, perché di essi è il regno dei cieli.


Beati voi quando vi insulteranno, vi perseguiteranno, e, mentendo, diranno ogni sorta di male contro di voi a causa mia.


Rallegratevi ed esultate, perché grande è la vostra ricompensa nei cieli.




‡Matteo 5, 3-12 San Lorenzo al Verano, Roma, 1 novembre 1981.


sábado, 3 de novembro de 2007


OS OBLATOS BENEDITINO DE SÃO JOSÉ.

1. O Oblato Beneditino de S. José é o cristão (leigo, militar, civil ou sacerdote) que, chamado por Deus, procura viver coerentemente o seu Batismo, a sua Confirmação e a Eucaristia dentro do espírito da Regra de São Bento; nos ditames desta encontra alimento e estímulo para tender à perfeição evangélica e à glorificação do Criador no meio militar ou onde o irmão se fizer presente, em seus trabalhos ou em seu lar.

2. A atitude de irmão oblação beneditino (ao Senhor) é decorrente, para todo cristão, de sua inserção na Igreja pelo Batismo e de sua participação na Celebração Eucarística. Com efeito, o cristão, na Santa Missa, renova sua oblação ao Pai, em união com a de Cristo. É essa oblação sacramental que o cristão deve reafirmar e exercitar no decorrer de sua vivência cotidiana.

3. O Oblato é membro de uma Comunidade Independente e com Instituto Próprio, porém esta ligada a um respectivo Mosteiro (no nosso caso ao Mosteiro de São Paulo). Participam dos bens espirituais do cenóbio e procuram, na medida do possível, acompanhar a vida do mosteiro e na sua Comunidade.

A palavra Oblato vem do latim oblatus, "oferecido". Na Regra de São Bento, tal vocábulo designa os meninos oferecidos por seus genitores para o serviço de Deus no mosteiro (cf. cap. 59; São Gregório Magno, Diálogos, I, II). Aos poucos o termo "Oblato" passou a designar fiéis que, desejosos de viver mais plenamente a vida cristã, se filiam a determinado mosteiro. Os que passam a morar no próprio cenóbio são chamados "oblatos regulares", ao passo que aqueles que continuam no século são ditos "oblatos seculares".


A OBLAÇÃO

1. A oblação é o ato pelo qual o irmão se oferece a Deus e se torna membro efetivo de da Comunidade na qual professa, se bem que a título diferente do monge.

2. O Oblato torna-se irmão dos monges e se considera como testemunha do espírito da Regra no mundo. Este liame não dispensa o Oblato das responsabilidades humanas (familiares, profissionais, sociais, etc.) e cristãs (eclesiais e paroquiais) nem o sujeita à jurisdição do abade ou Prior no nosso caso em particular.

3. Entre a comunidade monástica e o Oblato deve existir intensa comunhão de orações, sacrifícios e serviço.

4. A oblação não é profissão religiosa nem implica voto público ou particular; pressupõe, todavia, propósito maduro e estável da vontade, a Deus manifestado perante a Igreja e confirmado mediante rito sagrado.

5. O pedido do cristão para tornar-se oblata supõe a existência de laços espirituais com o mosteiro ao qual deseja vincular-se. Pode tornar-se Oblato todo fiel cuja maturidade espiritual, no julgamento do abade ou do seu delegado, seja capaz de pesar o alcance deste compromisso.

6. Só poderá ser recebido no noviciado o postulante que tiver completado dezoito anos de idade e não pertencer simultaneamente a uma Ordem Terceira.

7. Antes de chegar à oblação monástica, o candidato deverá percorrer um período de preparação, assim estruturado:

(1º) postulantado, que terá a duração mínima de seis meses e a máxima de um ano;

(2º) noviciado, que durará um ano, mas poderá ser prolongado a critério do mestre dos noviços dos oblatos, depois do que ou será admitido o noviço à oblação ou serão extintos os efeitos estatutários do noviciado.

8. O abade do mosteiro ou um monge por ele delegado exercerá as funções. Este procurará acompanhar o crescimento espiritual dos irmãos, dos noviços, dos postulantes e dos candidatos. Aos formandos, o Diretor ministrará regularmente conferências sobre a Santa Regra, os Salmos e outros temas relacionados com a vida monástica. O futuro Oblato deve aproveitar especialmente o período de formação para aprofundar-se no conhecimento da vida cristã e impregnar-se do espírito da Santa Regra. Para tanto, recorrerá à oração, ao estudo, às leituras, às reuniões e a outros meios convenientes.

9. Compete ao abade ou a seu delegado decidir sobre a admissão, ou não, de postulantes ao noviciado ou de noviços à oblação.

10. O Oblato poderá, se o desejar, transferir-se de um mosteiro para outro, desde que haja o consentimento dos respectivos abades.

11. A oblação realizar-se-á, de preferência, durante o Santo Sacrifício da Missa, para acentuar que está unida à oferenda de Cristo e da Igreja.

12. Na vestição e na oblação observar-se-á o Ritual próprio.

13. As cartas de oblação serão conservadas no arquivo da Comunidade, e os nomes dos oblatos ficarão inscritos em registro próprio. A cada Oblato será entregue um documento, testemunho de seu compromisso.

14. A oblação pode, em casos excepcionais, ser anulada pelo próprio Oblato ou pelo abade (prior). Mas nem o Oblato desista do seu propósito senão após madura reflexão, nem o abade demita um Oblato sem justa e grave causa.

15. Caso o deseje, o Oblato poderá ser sepultado com o hábito monástico (túnica, cíngulo, escapulário).


A CONVERSAÇÃO DOS COSTUMES

Da oblação decorre para o Oblato o dever de se aplicar fielmente à conversação dos costumes indicada por São Bento aos monges: cf. Santa Regra, Prólogo e cap. 58.

Por "conversação dos costumes" entende-se o modo de vida monástica exigido pela Santa Regra. Tal modo de vida, para os oblatos seculares, consistirá essencialmente na procura de constante conversão, na prática da oração, no cumprimento generoso dos deveres de estado e na convivência fraterna. Tais elementos são aptos a levar o Oblato à perfeição evangélica ou à santidade, termo ao qual todo cristão é chamado desde o momento do seu Batismo:

"Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade:. Constituição "Lumen Gentium" nº 40).

A santidade é, pois, a vocação suprema de todo Oblato. A Santa Regra não tenciona senão ajudá-lo a atingir essa meta suprema.


III. 1. A Conversão

1. A conversão significa a renúncia permanente ao velho homem e às suas concupiscências, passagem do egoísmo para o amor e dos valores mundanos para as bem-aventuranças. É a própria vivência do Batismo, que implica a morte ao pecado e ressurreição com Cristo para a vida nova.

2. A conversão é inseparável da prática da ascese. Diz o Santo Legislador que a vida do monge deveria ser caracterizada, em todo tempo, pela observância da Quaresma (Santa Regra, cap. 49). É necessário, pois, que o Oblato tenha em vista este traço da sua vocação e cultive a sobriedade, a simplicidade, a austeridade, e se abra docilmente às genuínas inspirações do Espírito.

3. O cap. 7 da Santa Regra, ao apresentar os doze graus da humildade, oferece ao Oblato as grandes linhas de um programa de renúncia a si para viver mais e mais em Deus. O Prólogo e o cap. 4 (sobre os instrumentos das boas obras) da mesma Santa Regra constituem outras tantas fontes de renovação interior e exterior.

4. Dois (entre os quais haverá Assembléias e capítulos) retiro espiritual por ano, de preferência com todos os irmãos, e um encontro mensal da Comunidade contribuem para a conversão dos costumes, aprofundamento e oração em comum e estreitamento dos laços da caridade fraterna que une os irmãos.

III. 2. A Oração

1. A oração é a procura da íntima união com Deus que se faz num diálogo pessoal e silencioso (oração particular) ou de maneira vocal e comunitária.

2. O centro da vida de oração é a Celebração Eucarística, de que o Oblato há de participar assiduamente. Destarte, a Santa Missa alimentará cada vez mais os pensamentos, os afetos e os atos do Oblato.

3. Em torno da Santa Missa coloca-se o Ofício Divino, pelo qual os filhos de São Bento nutrem especial estima, visto ser a oração oficial da Igreja. Por conseguinte, esforcem-se os oblatos por recitar diariamente ao menos uma parte do Ofício Divino sob qualquer das formas aprovadas pela Igreja.

4. Para que a oração vocal seja eficaz, torna-se indispensável a oração silenciosa. Esta pode ser compreendida sob a "lectio divina", à qual Nosso Pai São Bento atribui notável importância na Santa Regra (cf. cap. 42; 48). Esforcem-se, pois, os oblatos por ler e aprofundar, com a inteligência e o afeto, a Sagrada Escritura, à qual é muito desejável que dediquem, diariamente, certo espaço de tempo (cf. Concílio Vaticano II, Constituição "Dei Verbum" nº 25; Decr. "Perfectae Caritatis", nº 6). Tenderão a familiarizar-se, Outrossim, com as obras de espiritualidade mais notáveis da Tradição e da atualidade da Igreja. Além do que, estimarão grandemente boa formação teológica, valor esse que a Santa Igreja hoje em dia procura ministrar, sob variadas formas, a todos os seus filhos. Melhor conhecimento da Palavra de Deus, das ciências sagradas e da Santa Regra nutre a oração, corrobora a fé e incita ao testemunho apostólico.

III. 3. O Cumprimento dos Deveres de Estado

1. Se todo cristão leigo é chamado a impregnar do espírito evangélico as estruturas deste mundo, o Oblato é especialmente incitado a tanto por sua vocação beneditina, sabiamente expressa na fórmula "Ora et labora".

2. Vêem muito a propósito as palavras da Constituição "Lumen Gentium" do Concílio Vaticano II:

"Os leigos, por sua própria vocação, procuram o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no século, isto é, em todos e em cada um dos ofícios e trabalhos do mundo. Vivem nas condições ordinárias de vida familiar e social, pelas quais sua existência é como que tecida. Lá são chamados por Deus, para que, exercendo seu próprio ofício guiado pelo espírito evangélico, ao modo do fermento, de dentro, contribuam para a santificação do mundo. E assim manifestam o Cristo aos outros, especialmente pelo testemunho de sua vida resplandecente em fé, esperança e caridade. A eles, portanto, cabe de maneira especial iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas temporais, às quais estão intimamente unidos, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Cristo, para louvor do Criador e Redentor". (nº 31).

3. A propósito, leia-se também a Constituição "Gaudium et Spes", nº 44.

4. O trabalho não é somente necessidade de índole vital, mas é também ascese, ou seja, motivo de renúncia e de disciplina dos costumes. É no trabalho que se defrontam situações concretas de praticar a virtude. Em contraste, a ociosidade é declarada por São Bento "inimiga da alma" (Santa Regra, cap. 48).

5. O Oblato deverá dar testemunho de fidelidade a seus deveres de estado de modo que o seu lar mereça o honroso título de "igreja doméstica", que caracteriza a casa da família cristã.


O SENSO ECLESIAL

1. Mais do que nunca, é viva no povo de Deus, em nossos dias, a consciência de Igreja como comunhão e participação (cf. Documento de Puebla, passim).

2. Cumpre ao Oblato nutrir vivos sentimentos de filial fidelidade a Santa Igreja, pulsar com Ela, identificando-se com as intenções do Sumo Pontífice. Viverá, assim, também o espírito da Ordem de São Bento, que através dos séculos sempre foi esteio das grandes aspirações da Santa Sé e do Vigário de Cristo.

3. De modo especial, a fidelidade à Igreja traduzir-se-á em fidelidade ao magistério - ordinário e extraordinário - da Igreja. O Oblato, portanto, guardará em tudo a fé pura e haurida da voz oficial da Santa Igreja.

4. Aos oblatos não se impõe, por força da Regra, tarefa apostólica específica; porém, beneditinos que são, não deixarão de imprimir no seu apostolado os sinais característicos da espiritualidade que vivem, principalmente o amor à Sagrada Liturgia e à piedade cristocêntrica e trinitária.

5. O bom filho de São Bento no século não se pode eximir de responder aos apelos que a Santa Igreja hoje em dia dirige a todos os cristãos leigos, no sentido de que assumam sua responsabilidade pessoal na edificação e na difusão do Reino de Cristo. Eis as palavras do Concílio Vaticano II:

"A vocação cristã é, por sua natureza, também vocação para o apostolado. Como no organismo de um corpo vivo, nenhum membro se comporta de maneira meramente passiva, mas, unido à vida do corpo, também compartilha a sua operosidade, da mesma forma no Corpo de Cristo... Tão grande é neste corpo a conexão e a coesão dos membros (cf. Ef. 4, 16) que o membro que não trabalha para o aumento do corpo segundo sua medida, deve considerar-se inútil para a Igreja e para si mesmo". (Decr. "Apostolicam Actuosilatem" nº 2).

6. Adiante, o mesmo texto conciliar recorda que "a caridade é como que a alma de todo apostolado". (ib.3).

7. Eis, por que, é recomendada aos oblatos a consideração atenta das normas desse Decreto e o empenho em praticá-las.


O ESPÍRITO BENEDITINO

A tradição monástica formulou em palavras ou frases incisivas algumas das grandes características do espírito beneditino, que todo Oblato há de procurar observar.
A seguir, vão explanadas treze delas:

V.1. Ora e Trabalha

1. É o lema "Ora et labora" que dá estrutura a toda a vida do discípulo de São Bento.

2. A oração significa a atitude definitiva do cristão, principalmente sob a forma de adoração, louvor e gratidão ao Senhor. É ela que alimenta e aprofunda a união de da criatura com o Criador, e leva o cristão a participar, cada vez mais, da vida trinitária. É por isto que a oração ocupa o primeiro lugar na estima do Oblato.

3. O trabalho é forma de disciplina e ascese, como também de transformação do mundo segundo o plano e os desígnios do Criador. O Oblato se santifica não apesar do trabalho, mas mediante o trabalho. Este há de ser assumido não apenas como meio de subsistência, mas no intuito de servir a Deus e ao próximo. Quem ora devidamente, se habilita a trabalhar em espírito de louvor e adoração a Deus, como o fez o Divino Mestre quando se dignou trabalhar com mãos humanas, pensar com inteligência humana, agir com vontade humana, amar com coração humano (cf. Constituição "Gaudium et Spes" nº 22).

V.2. Em todas as coisas seja Deus Glorificado

1. Referindo-se ao trabalho dos artífices do mosteiro, São Bento recomenda aos monges que procurem vender os respectivos artefatos por preço módico "para que em todas as coisas seja Deus glorificado" (Santa Regra, cap. 57). Esta fórmula é inspirada pelo texto bíblico de 1Pd 4, 11. Em seu teor latino, veio a ser uma das expressões típicas do espírito monástico: "Ut in omnibus glorificetur Deus" (abreviadamente: U.I.O.G.D.)

2. A fórmula beneditina poderia ser aplicada a todas as prescrições da Santa Regra e a toda a vida do mosteiro. Este é concebido como escola do serviço divino (Prólogo), na qual tanto o Ofício Divino quanto as atividades aparentemente profanas têm por finalidade suprema dar louvor a Deus.

3. A espiritualidade monástica é essencialmente teocêntrica. O Oblato beneditino, mesmo vivendo no século, saberá traduzir este teocentrismo em atitudes e gestos concretos de sua vida.


V.3. Nada preferir ao Amor de Cristo

1. Esta norma, colocada no cap. 5 da Santa Regra, entre os instrumentos das boas obras, exprime fielmente o pensamento paulino de que está impregnada a espiritualidade beneditina.
2. Em Cristo quis o Pai, desde a eternidade, amar e abençoar cada ser humano (cf. Ef. 1,3-5). Nele, por Ele e para Ele tudo foi criado (cf. Cl 1, 16): tudo Nele subsiste (cf. Cl 1. 17). "Nele aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude" (Cl 1, 19). É por Ele que ousamos chegar-nos a Deus Pai confiantemente (cf. Ef 3, 12).

3. A presença central do Cristo na vida cristã é incutida também na Liturgia Eucarística, onde se diz: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo..."

4. Por conseguinte, compete ao Oblato procurar conhecer sempre mais profundamente o Cristo Jesus, não só por via intelectual, mas também mediante uma configuração crescente ao Senhor Jesus. Associe seus sofrimentos e suas alegrias aos do Cristo Jesus, procurando completar em sua carne o que falta à Paixão de Cristo, em prol da Igreja (cf. Cl 1, 24), certo de que, padecendo com Cristo, reinará também com Cristo (cf. 2Tm 2, 11; Santa Regra, Prólogo). Acompanhando diariamente o Cristo peregrino na Terra, aceite com serenidade a sua parcela da cruz salvífica, a qual se lhe transformará em árvore da vida e penhor de ressurreição.

“Por Cristo homem a Cristo Deus, E por Cristo Deus a Deus Pai”
Santo Agostinho
(Com a licença dos irmãos gostaria de indicar um filosofo neste capítulo)

V.4. Como Sagrados Vasos do Altar

No cap. 31, relativo ao celeireiro, São Bento recomenda que se considerem "todos os objetos do mosteiro e demais utensílios como sagrados vasos do altar". Tal visão de fé há de caracterizar também o Oblato. Nada é profano ou religiosamente neutro aos olhos do cristão e especialmente aos olhos do filho de São Bento. Ao contrário, a reverência incutida pela certeza da presença de Deus na oração acompanhar-lo-á na execução de suas tarefas, pois elas, a seu modo, contribuem para pô-lo em contato com o Senhor Deus e os valores eternos. E, de modo especial, São Bento convida seus discípulos a ver nos irmãos a presença de Cristo: assim, entre outros, no Abade (cap. 2), nos enfermos (cap. 16), nos hóspedes e nos pobres (cap. 53).

V.5. Nada em Demasia

1, Esta máxima de Cícero encontra-se no cap. 64 da Santa Regra, concernente ao Abade. Este, ao corrigir os irmãos, há de proceder prudentemente e não em demasia, para que, desejando raspar demasiado a ferrugem, não quebre o próprio vaso.

2. Tal fórmula tornou-se a expressão da famosa discrição beneditina, já muito exaltada por São Gregório Magno )cf. Diálogos, cap. 36, I, II). Esta discrição não significa mediocridade ou prudência acovardada e medrosa. Muito ao contrário: é a virtude que proporciona os meios ao fim respectivo e que, por isto, cria ordem e harmonia na vida beneditina. Essa proporcionalidade ou harmonia pode exigir renúncia e sacrifício; ela não somente é compatível com a ascese, mas pode fomentar a *ascese. É da discrição que decorre o senso estético que deve caracterizar a Liturgia e as expressões de um mosteiro beneditino. Os filhos de São Bento há de viver em harmonia e proporção - o que nada tem de afetado, mas implica pureza interior e dignidade de porte visível (no vestir-se, no falar, no recrear-se, no conversar...).
* Exercício prático que leva à efetiva realização da virtude, à plenitude da vida moral:
V. 6. Ser Primeiramente

1. No cap. 4 da Santa Regra. O Legislador exorta os monges a que "não queiram ser tidos como santos antes que o sejam, mas primeiramente sejam santos para que possam ser considerados como tais".

2. Esta norma traduz a aversão à aparência destituída de conteúdo, aos rótulos ilusórios ou contraditórios. Revela absoluta preferência pelo ser em relação ao ter. Em conseqüência, incute ao filho de São Bento a preocupação com a coerência de pensamento e vida. Sugere a honestidade incondicional de atitudes, de palavras e de ambiente. Evite o Oblato linguagem falsa, ambígua e vã.

3. O amor à autenticidade se exprime mais de uma vez na Regra de São Bento: assim, no tocante ao oratório ("seja aquilo que o nome significa"; cap. 52). Ao Abade ("faz as vezes de Cristo, porque é chamado pelo mesmo cognome que Este"; cap. 2), ao monge feito soldado do verdadeiro Rei (Prólogo) ou penetrado pela humildade (12º grau; cap. 17...)

V. 7. Nada Antepor ao Ofício Divino

1. Quer São Bento que o Ofício Divino seja a tarefa primordial do monge, tarefa que inspire e impregne todas as demais atividades.

2. O Oblato vê nesta norma também um traço da sua espiritualidade. Embora não esteja obrigado a celebrar o Ofício Divino no coro, deve fazer da oração (seja particular, seja comunitária) o centro de sua vida. Isto não requer que se dedique à oração o tempo que deveria consagrar a outros deveres, mas exige que a oração seja tarefa efetuada com o maior empenho e solicitude, diariamente, nas horas próprias. Assim procedendo, o Oblato estará dando a Deus o ligar primordial que a Ele compete, e se abrirá às graças que levas à perfeição ou santidade.

V. 8. Antecipem-se Uns aos Outros em Honra

1. Estas palavras, tiradas do cap. 72 da Santa Regra, sintetizam toda a doutrina da caridade fraterna, que é o coração do Novo Testamento e a característica principal dos discípulos de Jesus Cristo. Todo este capítulo, feito de máximas de grande densidade espiritual, deve ser freqüentemente meditado pelo Oblato e transformado em norma de vida cotidiana.

2. Membros da mesma família monástica concebam uns para com os outros genuíno espírito de fraternidade, que se traduzirá na assistência solícita aos enfermos, aos atribulados e a quantos sofrem as vicissitudes da vida. Este mesmo zelo existirá no Abade e no Padre Prior, que procurarão acompanhar cada um dos oblatos nos altos e baixos de sua caminhada, dando a sentir a cada um a presença da comunidade e dos valores da fé, principalmente nas horas difíceis. Tal tipo de assistência dos monges e dos oblatos avivará nos irmãos carentes a consciência de que somos membros uns dos outros e formamos um só corpo em Jesus Cristo (Rm. 12,5) e ainda de que "ninguém vive e ninguém morre para si mesmo, porque, se vivemos, é para o Senhor que vivemos, e, se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor" (Rm 14,7s).
3. A participação da comunidade fraterna na dor e, especialmente, nos momentos finais da peregrinação terrestre de um Oblato será, para este, o sinal vivo da sua pertença a Cristo e da sua comunhão com a Igreja peregrina em marcha para a Jerusalém celeste, à qual desde o Batismo cada um foi chamado. "Quanto me alegrei quando me disseram: Iremos para a casa do Senhor!" (Sl. 121, 1)

V. 9. Paz (PAX!)

1. A tradição associou a palavra PAZ ao ideal beneditino. Na verdade, a paz constitui o ambiente do mosteiro e, mais ainda, o estado íntimo dos seus moradores: os monges hão de cultivar a paz, ou seja, "a tranqüilidade na ordem" (Santo Agostinho) nas suas relações com Deus, com os irmãos, filhos do mesmo Pai, e com as demais criaturas.

2. Repetidamente a Santa Regra refere-se à paz como sendo uma das características do cenóbio e do monge: "Todos os membros estarão em paz" (Santa Regra, cap. 34; cf. cap. 53, Prólogo...)

3. O Oblato adotará mais este traço da espiritualidade monástica, que o Evangelho enfatiza na sétima bem-aventurança: os filhos de Deus são artífices da paz (cf. Mt. 5, 9). A paz e a discrição monásticas supõem harmonia, equilíbrio e proporcionalidade na escala de valores do Oblato. Esteja ele tão impregnado dos bens eternos que a sua mera presença já se torne sinal de ordem e tranqüilidade.

V. 10. Na Prontidão do Temor de Deus

Como tantas outras, esta palavra do cap. 5 da Santa Regra lembra ao monge e ao Oblato que sua vida deve ser guiada pelos dons do Espírito Santo. E o dom básico do temor de Deus é três vezes lembrado pela Sagrada Escritura como sendo "o começo da Sabedoria" (Sl. 110, 10: Pr. 1, 7; 9, 10). São Bento o apresenta como o móvel da prontidão monástica aos apelos de Deus, que lhe são dirigidos pela voz do Superior, pelo sino conventual ou pelas necessidades dos irmãos. É o segredo daquela solicitude que Nosso Pai deseja encontrar em seus filhos pelo Ofício Divino, pela obediência e pelos opróbrios (cf. Santa Regra, cap. 58). Por isso, a pontualidade deve ser uma característica da vida do Oblato, sinal dessa prontidão no serviço de Deus e dos homens.

V. 11. Seja Tudo Comum a Todos

1. Nos capítulos 33 e 34 da Santa Regra, são Bento estabelece a sua doutrina sobre a pobreza monástica: insiste na radicalidade do desprendimento dos bens materiais, cuja posse ele considera "vício que deve ser cortado do mosteiro pela raiz" (cap. 33). Encontra-se o espírito desta doutrina claramente revelado por Jesus em vários episódios evangélicos, principalmente no diálogo com o jovem rico e nos comentários seguintes feitos com os apóstolos (cf. Mt. 19, 16-30).

2. O Oblato que vive no mundo e que não é chamado ao radical despojamento monástico, deve, no entanto, aprofundar cada vez mais a "bem-aventurança dos pobres de coração", proposta por Jesus no Sermão da Montanha (cf. Mt. 5,3). Ao contrário do espírito do mundo que valoriza o ter, deve ele valorizar cada vez mais o ser e o seu compromisso de partilha e comunhão com os irmãos.
Sendo possuidor de bens materiais, sinta-se mais administrador do que dono, lembrado da palavra do Sumo Pontífice e Santo João Paulo II: “sobre toda propriedade particular pesa uma hipoteca social”.

3. São Bento chama de "presunção" o pensar que alguma coisa nos pertence (cap. 33) e nos lembra que a paz da comunidade depende de uma partilha de bens, conforme as necessidades de cada um.

V. 12. Perseverando no Mosteiro ou na Comunidade

No final do Prólogo, São Bento apresenta a perseverança e a paciência como a expressão da participação do monge nos sofrimentos de Cristo, penhor da comunhão com o Senhor na glória. Este é o sentido do voto de estabilidade que ele vai exigir de seus monges, em contraposição com os giróvagos, que se caracterizam pela instabilidade. O contato com o mosteiro será, para o Oblato, sinal da seriedade do propósito de buscar a Deus e de ser perseverante no esforço de conversão. A oblação, após prolongado período de reflexão sobre os preceitos da Regra, deve ser uma entrega total da vida a Deus, em comunhão com os irmãos que buscam o mesmo ideal, e que usam as fortíssimas armas da obediência (Prólogo). Tenha o Oblato presentes diante de seu coração as palavras de Cristo: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus" (Cl. 9, 62). Não confie nas próprias forças, mas, como afirmou no dia da oblação, se entregue humilde e corajosamente ao poder da graça divina, que trabalhará sem cessar no seu espírito aberto à ação do Espírito Santo.

V. 13. Glorificam o Senhor, que trabalha em seu Coração

1. Esta referência, quase literal, ao cântico de Maria na sua visitação a Isabel, é uma das mais belas sentenças da Santa Regra e pode ser apresentada como síntese da vida do monge e do Oblato. Com efeito, estes são chamados a glorificar a Deus, cantando os seus louvores, e deixando-o agir no íntimo da criatura pela graça do Espírito Santo.

2. A vocação a configurar-se a Cristo o Oblato a viver cada vez mais como filho de Maria. Jesus é todo Filho do Pai e Filho de Maria. Por conseguinte, o Oblato, à medida que for progredindo em sua vida espiritual, tomará consciência sempre mais nítida de que há de ser, para Maria, outro Jesus, filho devoto de Maria, em sua piedade dedicará à Mãe do Céu o lugar inconfundível que lhe cabe. Aliás, a tradição monástica sempre foi profundamente voltada para Maria Santíssima; tenha-se em vista os numerosos mosteiros a ela dedicados, assim como o título antigo "Rainha dos Monges".

3. O Oblato verá também em Maria Santíssima o exemplar de toda a Igreja e a consumação antecipada dos bens que esta possui germinalmente. Assim, a piedade para com Maria e a dedicação à Igreja se lhes tornarão inseparáveis.

CONCLUSÃO

Estas poucas palavras e o estudo da S. Regra, foram elaborados e feitos após duas belas e longas conferencias na Base Aérea de São Paulo, as conferencias foram feitas por Dom Cláudio (Monge da Abadia de S. Paulo) e por um dos Capelães e psicólogo da Área do IV Comar, deram a nossa comunidade uma nova visão e um parecer de vida comunitária, para que em tudo seja Deus glorificado.
Aqui termino.

Ir. Charles de S. Gregório.


A SACRALIDADE DA ARTA NA IGREJA DO ORIENTE
Uma tradição que também é nossa.


Um ortodoxo adora Deus como um artista, pois leva para o trono do seu Senhor as obras da sua imaginação criadora. As cores e os desenhos dos Ícones, o som dos cânticos sagrados, as cúpulas e os arcos dos edifícios dedicados à celebração do mistério divino não são um mero e útil estímulo para a Ortodoxia. Antes, formam uma parte integral e indispensável do culto, pois o homem é chamado a humanizar o mundo material e um dos meios à sua disposição é o poder transfigurador da arte.

A Tradição Ortodoxa incorporou a arte na sua vivência espiritual, na medida em que a Beleza é um dos nomes de Deus e onde há beleza há harmonia e Deus está presente. A Ortodoxia reconhece Deus como primeiro artista: "E Deus disse: haja luz. E houve luz. E viu Deus que era boa à luz". Deus criou o mundo e viu que era bom! O Criador de todas as coisas fez sua obra e a contemplou, portanto a arte tem a função sagrada de nos transmitir uma verdade; desta decorre a beleza de uma obra. Nesse sentido, a Arte Sacra ocupa um lugar de primeira ordem como verdade teológica e como transfiguração deste mundo pelo reflexo do amor divino.



ÍCONE: IMAGEM DO INVISÍVEL

Os Ícones são característicos da Arte Sacra e Litúrgica da Igreja Oriental. Quando penetramos num templo ortodoxo imediatamente percebemos inumeráveis ícones por toda a Igreja. É que o ícone é sinônimo de Arte Sacra Bizantina, onde teve sua origem e aperfeiçoamento, embora não esteja restrito a um lugar geográfico.

Bizâncio irradiou esta arte por todo o império Cristão e hoje se encontra em todas as Igrejas Ortodoxas ou Católicas de Rito Oriental espalhadas pelo mundo. A atualidade do ícone é surpreendente. Há um movimento de redescoberta das fontes da Cristandade e o Ocidente Cristão cada dia se extasia e surpreende com as riquezas dos ícones. Estes têm lugar e papel importantíssimo para a espiritualidade ortodoxa que podemos compreender o lugar que ocupa o Ícone, já que não existe nada semelhante na tradição religiosa ocidental, seja na forma artística, seja no conteúdo espiritual. De fato, para o Ocidente Cristão, o ícone é desconhecido e incompreensível até que se percebe sua função e sentido. É isto que eu proponho aqui, uma aproximação e penetração no mundo do Ícone.



O QUE É UM ÍCONE?

Esta é uma indagação básica que se faz em geral. A palavra ícone vem do grego EIKÓN, que significa imagem, palavra com amplas aplicações e que no Ocidente é extensiva às figuras com volume ou estátuas que representam o Cristo ou os santos.O Oriente Cristão não produz estátuas por considerar o volume como um passo para antropomorfizar a representação e deslizar para a “idolatria”. Um Ícone, portanto, é simplesmente uma imagem pintada sobre a madeira, com técnica muito especial e de acordo com cânones bem definidos quanto ao tema, composição, cor, harmonia que se pretende pintar.



O QUE NÃO É UM ÍCONE

Para o Cristão ortodoxo é difícil definir o que é um ícone, porque para eles o ícone é uma experiência pessoal, a contemplação através da pintura. Portanto, só podemos defini-lo negativamente, ou seja, não é um retrato, não se pintam sentimentos ou emoções. Não se adora o ícone, não há risco de idolatrar a pintura, pois essa representa uma imagem - um protótipo, um modelo - na realidade, venera-se a pessoa representada, não o objeto em si. O Ícone é uma presença misteriosa que não se define. O Ícone não é um simples estilo artístico nem um modo histórico de arte, não está preso a um tempo específico.



QUAL O FUNDAMENTO DO ÍCONE

No Antigo Testamento Deus proibiu qualquer representação ou imagem divina (Ex.20). A pedagogia Divina levou os hebreus primeiro a escutar a voz de Deus (Dt. 4 12-15). Começa aqui o início da experiência pessoal com Deus. Não se podia representar Deus porque Ele nunca fora visto por ninguém. Os homens são conduzidos e preparados para o encontro verdadeiro com Cristo, que nos revela a verdadeira imagem de Deus. "Cristo é a imagem de Deus invisível" (Col. 1, 15). É na Encarnação do Verbo de Deus feito homem que podemos pintar sua imagem. Sendo o ícone a revelação do Invisível, a Iconografia é aos olhos o que a palavra é para o ouvido.



QUAL A FUNÇÃO DO ÍCONE?

O ícone tem uma função sacramental, na medida que reflete o divino, o atemporal e nos remete para a eternidade, da qual o ícone é uma janela.O Ícone possui uma beleza que não reside na estética do quadro, mas sim na verdade teológica que nos comunica. Não tem nem sequer função didática de ensino religioso, embora possamos aprender com ele. O que o Evangelho proclama com a palavra, o Ícone o anuncia com cores e o faz presente. Nas palavras de São João Damasceno, "o Ícone é um canal de graça com poder santificador", na medida que nos comunica a Luz Divina, atributo da glória do Reino de Deus. Diante do Ícone o recolhimento e o silêncio nos abrem à luz da transfiguração aos nossos olhos e nos permitem contemplar uma beleza que não é deste mundo.O Ícone é um testemunho do Poder Santificador do Espírito Santo na santidade dos santos e a certeza de que os homens podem seguir a mesma trilha aberta por Cristo.



HISTÓRIA DOS ÍCONES

É difícil definir quando começou a pintura de ícones. Uma tradição muito difundida atribui os primeiros ícones ao evangelista São Lucas, que sendo muito amigo da Virgem Maria, teria pintado vários ícones da Virgem, que gostou muito, abençoou e agradeceu.

Outra tradição relaciona os ícones com a imagem aerobita (Santa Face não pintada por mão humana) enviada por Cristo ao rei Abgar de Edessa. A lenda menciona que Abgar estava leproso e queria curar-se. Enviou uma delegação à Palestina pedindo a Cristo cura e um retrato Seu. Cristo atendeu e enviou-lhe um pano onde tinha enxugado o rosto e aí ficaram impressos os Seus traços.


Há uma tradição latina que menciona um episódio da Paixão de Cristo. Diz que Santa Verônica (que talvez signifique "vero ícone", verdadeira imagem) enxugou o rosto do Senhor, tendo esse pano retido a imagem de Cristo.

Houve Concílios que regulamentaram a confecção dos Ícones, como o de Trullo em 691, que defendeu uma doutrina cristológica do Ícone. Mas o Ícone viveu um período de contestação chamado precisamente de iconoclasta, ou seja, destruidor de Ícones. A guerra às imagens foi declarada pelo Imperador bizantino Leão III, em 725. As sagradas imagens foram condenadas, dando lugar à perseguição, morte e desterro dos defensores dos Ícones. Essa guerra foi declarada sob acusação de idolatria e esta querela durou mais de um século. Mesmo assim, em 787 celebrou-se o Concílio de Nicéia, que condenou os iconoclastas e justificou o culto dos Ícones.

Por fim, em 843, no primeiro Domingo da Quaresma, através da Imperatriz Teodora, foi restabelecida veneração às imagens, e celebrada solenemente nesta ocasião o "triunfo da Ortodoxia". Esta festa se celebra ainda hoje todos os anos e é denominada "O Dia da Ortodoxia".



QUEM PINTA OS ÍCONES

O Ícone só tem fundamento na Igreja, ou seja, é dentro da Tradição da Igreja “Ortodoxa” num contexto especial que surge o Ícone. O iconógrafo é alguém autorizado e avaliado por uma autoridade da Igreja para tal propósito; segue uma aprendizagem artística específica, quanto à técnica propriamente dita e segue recomendações espirituais, para poder realizar sua obra: orações, jejum, leitura e meditação bíblica.

O pintor de Ícones deve ser humilde, manso e piedoso - não deve ser charlatão, nem briguento, nem invejoso, nem bebedor, nem ladrão. Deve guardar a pureza espiritual e corporal.



O ICONÓGRAFO E A TRADIÇÃO

É importante frisar que o iconógrafo tem seu fundamento na Tradição espiritual da Igreja. Esta define não como conservação de uma herança passada, mas bem uma "transmissão", uma atualização da herança viva. O Ícone é uma das expressões da Tradição Sagrada da Igreja, o mesmo que a tradição escrita e a oral. O significado da palavra iconógrafo é "o que escreve os ícones" e deve ter uma preparação espiritual em contato direto com a Igreja, que o abençoa e orienta no seu trabalho artístico. Portanto, o conteúdo espiritual do ícone reside na fidelidade à tradição da Igreja, que define através de uma série de cânones e prescrições, os limites dentro dos quais o gênio do artista se movimenta, que é menos individual e mais teológico. No Ícone o artista é quase anônimo, ele é um instrumento para o Espírito Santo agir, emprestando-Lhe seu talento particular. Nenhum iconógrafo pretende ser "um artista original"; isto é completamente alheio à finalidade do Ícone.








AS ESCOLAS ICONOGRÁFICAS

Existem muitas escolas iconográficas. As principais são as eslavas e as gregas, que deram origem a uma grande diversidade de escolas. [...] O ícone é uma obra de arte que ultrapassa a própria arte: longe de ser somente de ordem estética, a mensagem do ícone é de ordem teológica. E por isso o ícone fala aos homens de nosso tempo, assim como falou aos homens de outrora.Imagem do invisível, janela para o infinito, a iconografia nasce da memória dos primeiros cristãos e enraíza-se no evangelho e na liturgia. Apenas por sua existência, cada ícone evoca o mistério da encarnação.



Qual o significado do Ícone?

A arte do Ícone é um apelo para que o cristão que o contempla se distancie dele e purifique os seus sentidos, de tal modo que possa contemplar nessa manifestação artística a própria Pessoa divina [que vem] até nós sob uma forma humana, a de Jesus Cristo. No seio da Igreja Ortodoxa o Ícone recebe a mesma veneração que as Sagradas Escrituras, porque as imagens exprimem através das suas cores e do simbolismo das suas formas o mesmo que a palavra escrita nos anuncia. Isto é, o Ícone procura exprimir o inexprimível; e isso se tornou possível desde que o Filho de Deus encarnou e Se fez Homem (na Antiga Lei era proibido fazer imagens por existir o perigo de idolatria, ou seja, da adoração dos ídolos: de fato, no Velho Testamento Deus revelava-Se aos homens sobretudo através da Palavra - mas depois a Palavra fez-Se carne, com Jesus Cristo).

De certo modo podemos dizer que Cristo encarnou, tomou um corpo, para nos mostrar a figura "humana" de Deus-Pai - Ele que nos criou à Sua imagem e semelhança.

"Ícone" significa exatamente "imagem". Assim, o Ícone de um Santo representa a imagem, simultaneamente terrestre e celeste, desse Santo, a sua imagem pura e integral. Podíamos, aliás, dizer que no Ícone a imagem humana é pintada como ela era na origem, na Criação do Mundo, liberta das leis da matéria resultantes da Queda. O que o Ícone nos mostra não é uma realidade do Mundo que nos rodeia: é uma "janela" que se abre para o Céu. E a imagem aí representada é a de uma criatura celeste, rodeada de luz (é essa a razão do fundo dourado que vemos, geralmente, em cada Ícone).

No caso de um Ícone de Cristo, o que contemplamos não é a sua natureza divina nem a sua natureza humana; é, sim, o próprio Verbo de Deus encarnado, tendo o divino e o humano reunidos em Si. Deste modo, a fotografia de um santo dos nossos dias não pode servir de Ícone (isto é, de imagem sagrada) porque a fotografia é uma imagem exclusivamente terrestre do homem. O mesmo se poderia dizer das esculturas, igualmente representações exclusivas da humanidade de um Santo. E ainda por cima, susceptíveis de incitar o crente à idolatria.

Deve-se acrescentar que a veneração das Santas Imagens (Ícones) é um dogma de Fé, assim formulado pelo 7. ° Concílio Ecumênico: "Os santos e preciosos Ícones devem ser colocados nas igrejas, casas, estradas, quer sejam Ícones de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo ou da nossa Soberana e sempre Virgem, a Santa Mãe de Deus, ou dos Santos Anjos e dos Homens Santos e Veneráveis. Porque, cada vez que vemos a sua representação pela imagem somos incitados a contemplá-los, a lembrarmo-nos dos modelos, e adquirindo assim mais amor por eles, somos ainda levados a render-lhes homenagem, beijando-os e testemunhando nossa veneração, não a verdadeira adoração que, segundo a nossa fé, convém apenas à natureza divina, porque a honra dada à imagem vai direta ao seu modelo e aquele que venera um Ícone venera a pessoa que se encontra nele representada".
Ir. Charles de S. Gregório.