segunda-feira, 8 de junho de 2015






O espírito da Comunidade

Pertencente à longa tradição beneditina segue a Regra de São Bento como mestra de vida monástica. Conforme entendiam os monges na Idade Média, interpretando o espírito da Regra, o lema de São Bento podia ser resumido pelo “ora et labora” – ora e trabalha. Acrescenta-se a esse lema “et legere”, ou seja, “e leia”, uma vez que, para São Bento, a leitura tem um espaço privilegiado na vida do monge, em especial a leitura das Sagradas Escrituras. Em vista disso, o ritmo da vida no mosteiro favorece o justo equilíbrio, temperando os momentos de trabalho (corpo), com a leitura (alma) e a oração (espírito).
Essa máxima da vida beneditina vem ao encontro daquela aspiração primeira e fundamental da vida monástica: uma vida de total entrega a Deus. Renunciando tudo quanto o separa de Deus, o monge procura alcançar a meta da vida contemplativa. A purificação do coração, nesse sentido, é a melhor expressão dessa busca, pois, como nos diz Jesus no Sermão da Montanha: "Felizes os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8).
Com a assistência do Espírito de Deus, os monges procuram viver o ideal de vida há muito preconizado na Igreja, como um verdadeiro dom de Deus. Jesus Cristo – crucificado, morto e ressuscitado para nossa salvação e manifestação perfeita do amor de Deus – é o maior ideal dos monges, o qual eles devem sempre ter diante dos olhos, dia e noite. A obediência, humildade e espírito abnegação de Cristo inspiram sua conduta, e o amor de que nutrem por ele os orienta a assumi-lo como seu único Senhor, cuja comunhão de vida lhes garante as maiores recompensas espirituais.

A liturgia

Na tradição beneditina, os momentos de oração em comum são caracterizados pela celebração da liturgia católica: a recitação do Ofício Divino, ou Liturgia das Horas, e a participação na Santa Missa. O zelo pela oração em comum fez com que os mosteiros fossem conhecidos pela liturgia bem celebrada.

O trabalho

Como era o desejo de São Bento, os monges deveriam encontrar no Mosteiro o seu sustento, de tal maneira que evitassem a saída habitual dos claustros monásticos. O necessário resguardo do coração é observado por meio de algumas medidas concretas, como a reserva em mudar-se de mosteiro ou sair sem motivos plausíveis de seu ambiente de recolhimento e oração. Por isso, suas atividades são normalmente realizadas no âmbito do próprio mosteiro.
Os trabalhos realizados podem variar de acordo com as condições do lugar ou do momento. Pode-se dizer que, ao longo da história, os monges beneditinos desempenharam uma gama bastante vasta de tarefas, desde os trabalhos, assim chamados, mais humildes, como a limpeza dos recintos e o cultivo da terra, como os administrativos e intelectuais. Na maioria das vezes, cada monge desempenha diversas atividades no mosteiro.

A disciplina

São Bento não escreveu uma regra que primasse pelo rigor ascético nas observâncias cotidianas. Antes de tudo, o monge chega ao cume das virtudes e da contemplação de Deus por meio de uma vida de sobriedade e humildade. Deus se revela às almas simples que o procuram na sinceridade e generosidade do coração.
Com isso, São Bento diferia do espírito de seu tempo. Um número maior de pessoas podiam ingressar na vida monástica. Seu objetivo era que no mosteiro os fortes encontrassem o que desejam e que os fracos não fujam. Orienta os monges com habitual docilidade: "Se aparecer alguma coisa um pouco mais rigorosa, ditada por motivo de eqüidade, para emenda dos vícios ou conservação da caridade, não fujas logo, tomado de pavor, do caminho da salvação, que nunca se abre, senão por estreito início." (RB Prol,47s)

A hierarquia



O regimento interno de um mosteiro beneditino é muito simples. Pode-se resumi-lo na organização de uma vida em comunidade sob uma Regra e um Abade. A pessoa do Abade faz às vezes do pai espiritual e do superior na comunidade. São Bento lhe reserva dois capítulos da Regra. O Abade deve saber do difícil encargo que recebeu: servir aos temperamentos de muitos, moderar entre o pio afeto de um pai e o rigor de um mestre e, sobretudo, procurar antes ser amado do que temido.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013



“Eu lhes digo: Quem me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas aquele que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus. Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado.” Lucas 12:8-10 (NVI)

O silencio se faz necessário às vezes. Diariamente, semanalmente, mês após mês, ano após ano temos a oportunidade de testemunhar as maravilhas que Deus nos faz ver e rever. Damos nosso testemunho com palavras, ações e atitudes em nossa sociedade, comunidades, igrejas e em todo o lugar onde formos. Revelamos quem é Jesus para nós com aquilo que dissemos e aquilo que deixamos de dizer; com palavras e também com silêncio.

Um bom filho volta ao seu lar!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

http://www.youtube.com/watch?v=rLWBTzgT4Ds

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Liturgia da Missa


Liturgia da Missa
Uma Breve Introdução




"Liturgia é uma ação sagrada, através da qual, com ritos, na Igreja e pela Igreja, se exerce e prolonga a obra sacerdotal de Cristo, que tem por objetivos a santificação dos homens e a glorificação de Deus" (SC 7).

Introdução

A Liturgia não é um teatro.

Um dos nossos maiores pecados hoje em dia é reduzirmos o assunto liturgia à celebração da missa e defini-la apenas como um conjunto de rituais e orações que nos levam ao céu. E tudo isso fruto de uma crescente automação religiosa, que podemos perceber a cada domingo em nossas assembléias litúrgicas. As pessoas vão à missa sem saber o porque de estarem ali e nem o que está acontecendo perante elas. São meros espectadores do preceito dominical ensinado por seus pais. Talvez seja por isso que nós católicos sejamos tão criticados.
Destinados àqueles que querem assumir em plenitude o mistério que Cristo confiou à sua Igreja, e romper com “tradicionalismos”, este manual, de maneira simples e objetiva, abordará de um modo geral a liturgia em si, dedicando, a seguir, uma atenção especial ao rito da missa, que é muito mais que “a festa do Rei Jesus...”

Uma breve palavra sobre história da salvação

O gráfico acima é uma representação do plano de salvação de Deus para a humanidade. Vale aqui recordar que o sentido da palavra “salvar” em Teologia significa “unir com Deus”. O gráfico mostra como Deus, após a queda original, age na história da humanidade, até que esta assuma sua plenitude, conforme os planos originais do Pai (I Jo 3,2).
E como se dá a ação do Pai na história? Ela é essencialmente Cristológica. Cristo é o nosso intercessor ao longo de toda história (Ef 1), por ele somos salvos. De fato, Cristo esteve presente no início da história, pois todas as coisas foram criadas nele (Jo 1,3). Está presente junto ao povo da antiga aliança, através da promessa, manifestada através dos patriarcas e profetas. Encarna-se na plenitude dos tempos, salvando-nos definitivamente através de sua paixão, morte e ressurreição. Ascende aos céus, prometendo permanecer conosco até o fim dos tempos (Mt 28,20). Presença essa mística, manifesta em sua Igreja e em seus sacramentos - a liturgia. No final dos tempos Cristo retornará para levar toda criação à plenitude.

Definição

Após considerarmos estes aspectos, podemos apropriar-nos da definição que a Igreja faz da liturgia: “Liturgia é uma ação sagrada, através da qual, com ritos, na Igreja e pela Igreja, se exerce e prolonga a obra sacerdotal de Cristo, que tem por objetivos a santificação dos homens e a glorificação de Deus” (SC 7).
Em outras palavras, a liturgia é a continuidade do plano de salvação do Pai, através da presença mística de Cristo nos sacramentos, que são administrados e perpetuados pela Igreja. Note-se, à Igreja cabe a missão de continuar a obra de Cristo, que se dá, sobretudo, através da liturgia. Sem liturgia, não há Igreja e sem Igreja não há liturgia. E sem liturgia não há continuidade no mistério da salvação da humanidade.
A Liturgia da Missa

Sentido, valor e utilidade

Certa ocasião, numa cidade do interior, o bispo da diocese fora visitar as obras de construção de uma Igreja. Ele então, viu vários operários carregando tijolos de um lado para outro e resolveu conversar com alguns deles:
- O que você está fazendo?
E o primeiro responde-lhe:
- Carrego tijolos.
O segundo, feita a mesma pergunta, responde:
- Estou garantindo o leite de meus filhos.
Fazendo a mesma pergunta a um terceiro operário, este responde ao bispo:
- Estou ajudando a construir uma igreja, aonde as pessoas virão agradecer a Deus por tudo que ele faz em suas vidas.
Três pessoas, a mesma ação. E para cada uma delas a ação tinha um sentido diferente. É o mesmo que ocorre com a missa. Para alguns, não há sentido, pois fazem seus atos sem ter consciência deles. Outros têm uma visão muito individualista do que fazem, e por fim há os que enxergam o todo da realidade em que participam, fazendo seus atos terem um sentido total. E nós, em qual grupo nos encaixamos?

Antes de respondermos, analisemos o sentido da missa. A missa é uma celebração. E celebrar, “é tornar presente uma realidade através de um rito”. Na celebração, temos sempre presentes o passado, o presente e o futuro, que em breves momentos unem-se num tempo só, a eternidade. E qual a finalidade de uma celebração? Nenhuma. A celebração possui valor. Aliás, as coisas mais importantes do homem como o lazer, o amor, a arte, a oração não tem uma finalidade produtiva, mas sim valor. E o valor da missa é tornarmos presente a paixão-morte-ressurreição de Cristo através da celebração, e assim participarmos mais ainda do mistério de salvação da humanidade.
Vale a pena ainda lembrar que, ao tornarmos presente o sacrifício de Cristo não quer dizer que estejamos novamente sacrificando o Cristo. Partindo do princípio que a salvação de Cristo não se prende à nossa visão de presente, passado e futuro, mas coloca-se no nível da eternidade, podemos afirmar que Cristo ao morrer na cruz salva todos os homens em todos os tempos, e a cada instante. É como se em cada missa, você estivesse aos pés da cruz contemplando o mistério da redenção da humanidade. E é o que acontece em cada missa, em cada eucaristia celebrada. E aí está o amor de Cristo ao dar-se na Eucaristia, em forma de alimento.

“Receita” de Missa

Para realizarmos uma missa precisamos de alguns ingredientes, assim como uma receita de bolo:
a) A palavra de Deus
b) Altar (a missa é uma ceia, precisamos de uma mesa);
c) Assembléia (no mínimo uma pessoa);
d) Intenção do que se faz, tanto da parte da assembléia quanto do ministro;
e) Ministro ordenado (padre ou bispo);
f) Pão, água e vinho.

Estes são os ingredientes indispensáveis a qualquer celebração eucarística. Sobre cada um deles, explicaremos no decorrer de cada parte da missa.
Uma mudança de palavras

Outrora, a missa não possuía este nome, mas era chamada de ceia do Senhor ou eucaristia. De fato, a missa é uma ceia onde nos encontramos com os irmãos para juntos alimentarmo-nos do próprio Deus, que se dá em alimento por sua Palavra e pelo pão e o vinho. E a missa também é eucaristia. O que vem a ser isso?

Eucaristia significa ação de graças. No capítulo 24 do livro do Gênesis, vemos um exemplo de ação de graças. Após a morte de sua esposa Sara, Abraão pede ao seu servo mais antigo que procure uma esposa para seu filho Isaac. O servo parte em busca desta mulher, mas como iria reconhecê-la? Pede a Deus um sinal e o servo a reconhece quando uma bela jovem dá de beber de seu cântaro ao servo e seus camelos. E qual sua reação após este fato? “O servo inclinou-se diante do Senhor. Bendito seja, exclamou ele, o Deus de Abraão, meu senhor, que não faltou à sua bondade e à sua fidelidade. Ele conduziu-me diretamente à casa dos parentes de meu Senhor” (Gn 24,26-27). Eis aqui uma ação de graças.
Quais os seus elementos? Temos antes de tudo um fato maravilhoso, uma bênção, um benefício, uma graça alcançada, manifestação da bondade de Deus. Depois, a admiração. O servo inclina-se diante do Senhor. Esta admiração manifesta-se pela exclamação e aclamação. Ele não faltou à sua bondade e à sua fidelidade. Proclama, então, o fato, narra o acontecimento, o benefício, a Bênção recebida. Todos estes elementos encontram-se no contexto da missa, como veremos adiante.

E por que então a missa possui este nome? Por enquanto acompanhemos a missa parte por parte e as respostas serão dadas.
Ritos Iniciais

Instrução Geral ao Missal Romano, n.º 24: “Os ritos iniciais ou as partes que precedem a liturgia da palavra, isto é, cântico de entrada, saudação, ato penitencial, Senhor, Glória e oração da coleta, têm o caráter de exórdio, introdução e preparação. Estes ritos têm por finalidade fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembléia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia”.

1. Comentário Inicial

Este tem por fim introduzir os fiéis ao mistério celebrado. Sua posição correta seria após a saudação do padre, pois ao nos encontrarmos com uma pessoa primeiro a saudamos para depois iniciarmos qualquer atividade com ela.

2. Canto de Entrada

“Reunido o povo, enquanto o sacerdote entra com os ministros, começa o canto de entrada. A finalidade desse canto é abrir a celebração, promover a união da assembléia, introduzir no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e acompanhar a procissão do sacerdote e dos ministros”(IGMR n.25)
Durante o canto de entrada percebemos alguns elementos que compõem o início da missa:
a) O canto

Durante a missa, todas as músicas fazem parte de cada momento. Através da música participamos da missa cantando. A música não é simplesmente acompanhamento ou trilha musical da celebração: a música é também nossa forma de louvarmos a Deus. Daí a importância da participação de toda assembléia durante os cantos.
b) A procissão
O povo de Deus é um povo peregrino, que caminha rumo ao coração do Pai. Todas as procissões têm esse sentido: caminho a se percorrer e objetivo a que se quer chegar.
c) O beijo no altar
Durante a missa, o pão e o vinho são consagrados no altar, ou seja, é no altar que ocorre o mistério eucarístico. O presidente da celebração ao chegar beija o altar em sinal de carinho e reverência por tão sublime lugar.
Por incrível que possa parecer, o local mais importante de uma igreja é o altar, pois ao contrário do que muita gente pensa, as hóstias guardadas no sacrário nunca poderiam estar ali se não houvesse um altar para consagrá-las.
3. Saudação
a) Sinal da Cruz
O presidente da celebração e a assembléia recordam-se por que estão celebrando a missa. É, sobretudo pela graça de Deus, em resposta ao seu amor. Nenhum motivo particular deve sobrepor-se à gratuidade. Pelo sinal da cruz nos lembramos que pela cruz de Cristo nos aproximamos da Santíssima Trindade.
b) Saudação
Retirada na sua maioria dos cumprimentos de Paulo, o presidente da celebração e a assembléia se saúdam. O encontro eucarístico é movido unicamente pelo amor de Deus, mas também é encontro com os irmãos.

4. Ato Penitencial
Após saudar a assembléia presente, o sacerdote convida toda assembléia a, em um momento de silêncio, reconhecer-se pecadora e necessitada da misericórdia de Deus. Após o reconhecimento da necessidade da misericórdia divina, o povo a pede em forma de ato de contrição: Confesso a Deus Todo-Poderoso... Em forma de diálogo por versículos bíblicos: Tende compaixão de nós... Ou em forma de ladainha: Senhor, que viestes salvar... Após, segue-se a absolvição do sacerdote. Tal ato pode ser substituído pela aspersão da água, que nos convida a rememorar-nos o nosso compromisso assumido pelo batismo e através do simbolismo da água pedirmos para sermos purificados.
Cabe aqui dizer, que o “Senhor, tende piedade” não pertence necessariamente ao ato penitencial. Este se dá após a absolvição do padre e é um canto que clama pela piedade de Deus. Daí ser um erro omiti-lo após o ato penitencial quando este é cantando. O “Senhor, tende piedade” poderá fazer parte do ato penitencial, mas para isso é necessário a inserção de uma característica de Deus. Ainda com relação ao texto do “Senhor...”, os vocativos presentes em cada frase referem-se a Jesus Cristo, aquele que intercede ao Pai por nossos pecados.

5. Hino de Louvor
Espécie de salmo composto pela Igreja, o glória é uma mistura de louvor e súplica, em que a assembléia congregada no Espírito Santo, dirige-se ao Pai e ao Cordeiro. é proclamado nos domingos - exceto os do tempo da quaresma e do advento - e em celebrações especiais, de caráter mais solene.

6. Oração da Coleta
Encerra o rito de entrada e introduz a assembléia na celebração do dia.
“Após o convite do celebrante, todos se conservam em silêncio por alguns instantes, tomando consciência de que estão na presença de Deus e formulando interiormente seus pedidos. Depois o sacerdote diz a oração que se costuma chamar de ‘coleta’, a qual a assembléia dá o seu assentimento com o ‘Amém’ final” (IGMR 32).
Dentro da oração da coleta podemos perceber os seguintes elementos: invocação, pedido e finalidade.

Liturgia da Palavra

Não existe celebração na liturgia cristã em que não se proclame a Palavra de Deus. Isto porque a Igreja antes de tornar presente os mistérios de Cristo ela os contempla. Pela palavra, Deus convoca e recria o seu povo, através de uma resposta de conversão da parte de quem a ouve.
“A parte principal da Palavra de Deus é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos Cânticos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída pela homilia, a profissão de fé e a oração universal ou dos fiéis. Pois nas leituras explanadas pela homilia Deus fala ao seu povo, revela o mistério da redenção e da salvação, e oferece alimento espiritual.; e o próprio Cristo, por sua palavra, se acha presente no meio dos fiéis. Pelos cânticos, o povo se apropria dessa palavra de Deus e a ele adere pela profissão de fé. Alimentado por esta palavra, reza na oração universal pelas necessidades de toda a Igreja e pela salvação do mundo inteiro”(IGMR 33).

1. I , II Leituras e Salmo

Para compreendermos melhor a liturgia da Palavra é necessário distinguir entre a liturgia dominical e a liturgia dos dias da semana. A primeira é dividida em três anos, nos quais a Igreja procura ler toda a Bíblia. Nos dias de domingo e festas o esquema das leituras é o seguinte: Primeira leitura, salmo, segunda leitura, aclamação ao Evangelho e evangelho. A primeira leitura e o evangelho tratam geralmente do mesmo assunto, para mostrar Jesus como aquele que leva à plenitude a antiga aliança; o salmo, é uma meditação da leitura, uma espécie de comentário cantado - daí ser insubstituível; a segunda leitura é feita de forma semi-contínua, sempre extraída da carta do apóstolo. Já a liturgia dos dias da semana não apresenta a segunda leitura, e toda a Bíblia é lida todos os anos.


2. O Evangelho

É o ponto alto da liturgia da Palavra. Cristo torna-se presente através de sua Palavra e da pessoa do sacerdote. Tal momento é revestido de cerimônia, devido sua importância. Todos ficam de pé e aclamam o Cristo que fala. O diácono ou o padre dirigem-se à mesa da palavra para proclamá-la. O que proclama a Palavra do evangelho menciona a presença do Cristo vivo entre nós. Faz o sinal da cruz na testa, na boca e no coração para que todo o ser fique impregnado da mensagem do Evangelho: a mente a acolha, a boca a proclame e o coração a sinta e a viva.

3. Homilia

A homilia faz a transição entre a palavra de Deus e sua resposta. É feita exclusivamente por um ministro ordenado, pois este recebeu, através da imposição das mãos o dom especial para pregar o Evangelho. A função da homilia é confrontar o mistério celebrado com a vida da comunidade. Na homilia, o sacerdote anima o povo, exorta-o e se for preciso o denuncia, mostrando a distância entre o ideal proposto e a vida concreta do povo.

4. Profissão de fé

“O símbolo ou profissão de fé, na celebração da missa, tem por objetivo levar o povo a dar seu assentimento e resposta à palavra de Deus ouvida nas leituras e homilia, bem como lhe recordar a regra da fé antes de iniciar a celebração da eucaristia”(IGMR 43).
A profissão de fé consiste na primeira resposta dada à Palavra de Deus. Nela cremos e aderimos, manifestando também nossa fé naquela que possui a incumbência de perpetuar esta palavra: a Igreja Católica. Possui duas formas, sendo a mais extensa proclamada em solenidades especiais, como o Natal, Anunciação etc.

5. Preces da comunidade

“Na oração dos fiéis ou oração universal, a assembléia dos fiéis, iluminada pela graça de Deus, à qual de certo modo responde, pede normalmente pelas necessidades da Igreja universal e da comunidade local, pela salvação do mundo, pelos que se encontram em qualquer necessidade e por grupos determinados de pessoas” (IGMR 30).
O povo de Deus ouve a Palavra de Deus, a acolhe e dá a sua resposta. Esta pode ser em forma de louvor, de súplica, adoração ou intercessão. Pede a Deus a graça de poder realizar a sua vontade; porém ele não é egoísta: pede por todos para que também possam realizar esta palavra e assim encontrar o sentido para suas vidas. Pede pela Igreja, para que esta tenha coragem de continuar proclamando esta palavra. Pede por aqueles que sofrem e pelas autoridades locais, para que concretizem o Reino de Deus entre nós. Finalmente faz seus pedidos pela comunidade local.
Talvez seria de imensa riqueza para a liturgia se as preces fossem feitas de modo espontâneo, mas para isso seria necessário ordem e instrução por parte da assembléia. Seria necessário lembrar que a resposta à Palavra de Deus nunca se dá de modo egoísta.

Liturgia Eucarística

Na liturgia eucarística atingimos o ponto alto da celebração. Durante ela a Igreja irá tornar presente o sacrifício que Cristo fez para nossa salvação. Não se trata de outro sacrifício, mas sim de trazer à nossa realidade a salvação que Deus nos deu. Durante esta parte a Igreja eleva ao Pai, por Cristo, sua oferta e Cristo dá-se como oferta por nós ao Pai, trazendo-nos graças e bênçãos para nossas vidas.
“Cristo na verdade, tomou o pão e o cálice em suas mãos, deu graças, partiu o pão e deu-os aos seus discípulos dizendo: ‘Tomai, comei, isto é o meu Corpo, este é o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim’. Por isso, a Igreja dispôs toda a celebração da liturgia eucarística em partes que correspondam às palavras e gestos de Cristo: 1) no ofertório leva-se o pão e o vinho com água, isto é, os elementos que Cristo tomou em suas mãos; 2) na oração eucarística rendem-se graças a Deus por toda obra salvífica e o pão e vinho tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo; 3) pela fração do mesmo pão manifesta-se a unidade dos fiéis, e pela comunhão recebem o Corpo e o Sangue do Senhor como os discípulos o receberam das mãos do próprio Cristo” (IGMR 48).
É durante a liturgia eucarística que podemos entender a missa como uma ceia, pois afinal de contas nela podemos enxergar todos os elementos que compõem uma: temos a mesa - mais propriamente a mesa da Palavra e a mesa do pão. Temos o pão e o vinho, ou seja o alimento sólido e líquido presentes em qualquer ceia. Tudo conforme o espírito da ceia pascal judaica, em que Cristo instituiu a eucaristia.
E de fato, a Eucaristia no início da Igreja era celebrada em uma ceia fraterna. Porém foram ocorrendo alguns abusos, como Paulo os sinaliza na Primeira Carta aos Coríntios. Aos poucos foi sendo inserida a celebração da palavra de Deus antes da ceia fraterna e da consagração. Já no século II a liturgia da Missa apresentava o esquema que possui hoje em dia.
Após essa lembrança de que a Missa também é uma ceia, podemos nos questionar sobre o sentido de uma ceia, desde o cafezinho oferecido ao visitante até o mais requintado jantar diplomático. Uma ceia significa, entre outros: festa, encontro, união, amor, comunhão, comemoração, homenagem, amizade, presença, confraternização, diálogo, ou seja, vida. Aplicando esses aspectos a Missa, entenderemos o seu significado, principalmente quando vemos que é o próprio Deus que se dá em alimento. Vemos que a Missa também é um convívio no Senhor.
A liturgia eucarística divide-se em: apresentação das oferendas, oração eucarística e rito da comunhão.

Apresentação das Oferendas

Apesar de conhecida como ofertório, esta parte da Missa é apenas uma apresentação dos dons que serão ofertados junto com o Cristo durante a consagração. Devido ao fato de maioria das Missas essa parte ser cantada não podemos ver o que acontece durante esse momento. Conhecendo esses aspectos poderemos dar mais sentido à celebração.
Analisemos inicialmente os elementos do ofertório: o pão o vinho e a água. O que significam? De fato foram os elementos utilizados por Cristo na última ceia, mas eles possuem todo um significado especial:1) o pão e o vinho representam a vida do homem, o que ele é, uma vez que ninguém vive sem comer nem beber;2) representam também o que o homem faz, pois ninguém vai na roça colher pão nem na fonte buscar vinho;3) em Cristo o pão e o vinho adquirem um novo significado, tornando-se o Corpo e o Sangue de Cristo. Como podemos ver, o que o homem é, e o que o homem faz adquirem um novo sentido em Jesus Cristo.
E a água? Durante a apresentação das oferendas, o sacerdote mergulha algumas gotas de água no vinho. E o porquê disso? Sabemos que no tempo de Jesus os judeus bebiam vinho diluído em um pouco de água, e certamente Cristo também devia fazê-lo pois era verdadeiramente homem. Por outro lado, a água quando misturada ao vinho adquire a cor e o sabor deste. Ora, as gotas de água representam a humanidade que se transforma quando diluída em Cristo.

Os tempos da preparação das oferendas:

a) Preparação do altar

“Em primeiro lugar prepara-se o altar ou a mesa do Senhor, que é o centro de toda liturgia eucarística, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o cálice e o missal , a não ser que se prepare na credência”(IGMR 49).
b) Procissão das oferendas

Neste momento, trazem-se os dons em forma de procissão. Lembrando que o pão e o vinho representam o que é o homem e o que ele faz, esta procissão deve revestir-se do sentimento de doação, ao invés de ser apenas uma entrega da água e do vinho ao sacerdote.
c) Apresentação das oferendas a Deus
O sacerdote apresenta a Deus as oferendas através da fórmula: Bendito sejais... e o povo aclama: Bendito seja Deus para sempre! Este momento passa despercebido da maioria das pessoas devido ao canto do ofertório. O ideal seria que todo o povo participasse desse momento, sendo o canto usado apenas durante a procissão e a coleta fosse feita sem as pessoas saírem de seus locais. O canto não é proibido, mas deve procurar durar exatamente o tempo da apresentação das oferendas, para que o sacerdote não fique esperando para dar prosseguimento à celebração.
d) A coleta do ofertório
Já nas sinagogas hebraicas, após a celebração da Palavra de Deus, as pessoas costumavam deixar alguma oferta para auxiliar as pessoas pobres. E de fato, este momento do ofertório só tem sentido se reflete nossa atitude interior de dispormos os nossos dons em favor do próximo. Aqui, o que importa não é a quantidade, mas sim o nosso desejo de assim como Cristo, nos darmos pelo próximo. Representa o nosso desejo de aos poucos, deixarmos de celebrar a eucaristia para nos tornarmos eucaristia.
e) O lavar as mãos

Após o sacerdote apresentar as oferendas ele lava suas mãos. Antigamente, quando as pessoas traziam os elementos da celebração de suas casas, este gesto tinha caráter utilitário, pois após pegar os produtos do campo era necessário que lavasse as mãos. Hoje em dia este gesto representa a atitude, por parte do sacerdote, de tornar-se puro para celebrar dignamente a eucaristia.
f) O Orai Irmãos...

Agora o sacerdote convida toda assembléia à unir suas orações à ação de graças do sacerdote.
g) Oração sobre as Oferendas
Esta oração coleta os motivos da ação de graças e lança no que segue, ou seja, a oração eucarística. Sempre muito rica, deve ser acompanhada com muita atenção e confirmada com o nosso amém!
A Oração Eucarística

É na oração eucarística em que atingimos o ponto alto da celebração. Nela, através de Cristo que se dá por nós, mergulhamos no mistério da Santíssima Trindade, mistério da nossa salvação:
“A oração eucarística é o centro e ápice de toda celebração, é prece de ação de graças e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar os corações ao Senhor na oração e na ação de graças e o associa à prece que dirige a Deus Pai por Jesus Cristo em nome de toda comunidade. O sentido desta oração é que toda a assembléia se una com Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do sacrifício” (IGMR 54).
Para melhor compreendermos a oração eucarística é necessário que tenhamos em mente as palavras: ação de graças, sacrifício e páscoa.
1. A missa é ação de graças
Como já foi referida anteriormente, a missa também pode ser chamada de eucaristia, ou seja, ação de graças. E a partir da passagem do servo de Abraão pudemos ter uma noção do que é uma oração eucarística ou de ação de graças. Pois bem, esta atitude de ação de graças recebe o nome de berakah em hebraico, que traduzindo-se para o grego originou três outras palavras: euloguia, que traduz-se por bendizer; eucharistia, que significa gratidão pelo dom recebido de graça; e exomologuia, que significa reconhecimento ou confissão.
Diante da riqueza desses significados podemos nos perguntar: quem dá graças a quem? Ou melhor dizendo, quem dá dons, quem dá bênçãos a quem? Diante dessa pergunta podemos perceber que Deus dá graças a sim mesmo, uma vez que sendo uma comunidade perfeita o Pai ama o Filho e se dá por ele e o Filho também se dá ao Pai, e deste amor surge o Espírito Santo. Por sua vez, Deus dá graças ao homem, uma vez que não se poupou nem de dar a si mesmo por nós e em resposta o homem dá graças a Deus, reconhecendo-se criatura e entregando-se ao amor de Deus. Ora, o homem também dá graças ao homem, através da doação ao próximo a exemplo de Deus. Também o homem dá graças a natureza, respeitando-a e tratando-a como criatura do mesmo Criador. O problema ecológico que atravessamos é, sobretudo, um problema eucarístico. A natureza também dá graças ao homem, se respeitada e amada. A natureza dá graças a Deus estando à serviço de seu criador a todo instante.
A partir desta visão da ação de graças começamos a perceber que a Missa não reduz-se apenas a uma cerimônia realizada nas Igrejas, ao contrário, a celebração da Eucaristia é a vivência da ação de Deus em nós, sobretudo através da libertação que Ele nos trouxe em seu Filho Jesus. Cristo é a verdadeira e definitiva libertação e aliança, levando à plenitude a libertação do povo judeu do Egito e a aliança realizada aos pés do monte Sinai.
2. A missa é sacrifício
Sacrifício é uma palavra que possui a mesma raiz grega da palavra sacerdócio, que do latim temos sacer-dos, o dom sagrado. O dom sagrado do homem é a vida, pois esta vem de Deus. Por natureza o homem é um sacerdote. Perdeu esta condição por causa do pecado. Sacrifício, então, significa o que é feito sagrado. O homem torna sua vida sagrada quando reconhece que esta é dom de Deus. Jesus Cristo faz justamente isso: na condição de homem reconhece-se como criatura e se entrega totalmente ao Pai, não poupando nem sua própria vida. Jesus nesse momento está representando toda a humanidade. Através de sua morte na cruz dá a chance aos homens e às mulheres de novamente orientarem suas vidas ao Pai assumindo assim sua condição de sacerdotes e sacerdotisas.
Com isso queremos tirar aquela visão negativa de que sacrifício é algo que representa a morte e a dor. Estas coisas são necessárias dentro do mistério da salvação pois só assim o homem pode reconhecer sua fraqueza e sua condição de criatura.
3. A Missa também é Páscoa

A Páscoa foi a passagem da escravidão do Egito para a liberdade, bem como a aliança selada no monte Sinai entre Deus e o povo hebreu. E diante desses fatos o povo hebreu sempre celebrou essa passagem, através da Páscoa anual, das celebrações da Palavra aos sábados, na sinagoga e diariamente, antes de levantar-se e deitar-se, reconhecendo a experiência de Deus em suas vidas e louvando a Deus pelas experiências pascais vividas ao longo do dia. O povo judeu vivia em atitude de ação de graças, vivendo a todo instante a Páscoa em suas vidas.
E é dentro da celebração da Páscoa anual dos judeus que Jesus Cristo institui o sacramento da Eucaristia, dando o seu corpo como sinal de libertação definitiva e dando seu sangue para selar a nova e eterna aliança. Em Cristo dá-se a verdadeira páscoa, o encontro definitivo do homem com Deus.

Fazei isto em memória de mim
Cristo ao instituir a Páscoa-rito para os cristãos deixa uma ordem ao final dela: “Fazei isto em memória de mim”. Mas o que pode significar esta ordem? Pode significar o fato de que, todas as vezes que quisermos celebrar a Páscoa devemos dar graças, consagrar o pão e reparti-lo com os irmãos. Mas será que apenas foi isto que Cristo mencionou na última ceia? Durante as palavras da consagração é muito forte a idéia de doação: “Tomou o pão e o deu a seus discípulos”, “Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue dados por vós”. A meu ver, Cristo nos chama a ser pão e vinho dado aos irmãos. Cristo nos chama a darmos o nosso corpo e o nosso sangue para, desse modo, fazermos memória a ele.
O esquema da oração eucarística segue aquele esquema referente a berakah dos judeus. Em resumo temos o seguinte: 1) O fato maravilhoso - Expresso no prefácio, relembra os benefícios, as bênçãos de Deus em nossas vidas.2) Admiração - Sentimento que atravessa toda oração.3) Exclamações e aclamações da assembléia ao longo da oração eucarística.4) Proclamação ou a memória dos benefícios, através da consagração das espécies.5) Pedidos e intercessões6) Louvor final - Por Cristo, com Cristo, em Cristo...

Após essas breves considerações vejamos agora como se esquematiza a oração eucarística:
a) Definição
“Trata-se de uma ação de graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. A Igreja rende graças a Deus Pai pelas maravilhas operadas por Cristo, no Espírito Santo. Ela louva, bendiz e agradece ao Pai. Comemora o Filho. Invoca o Espírito Santo”.
b) Prefácio
Após o diálogo introdutório, o prefácio possui a função de introduzir a assembléia na grande ação de graças que se dá a partir deste ponto. Existem inúmeros prefácios, abordando sobre os mais diversos temas: a vida dos santos, Nossa Senhora, Páscoa etc.
c) O Santo
É a primeira grande aclamação da assembléia a Deus Pai em Jesus Cristo. O correto é que seja sempre cantado.
d) A invocação do Espírito Santo
Através dele Cristo realizou sua ação quando presente na história e a realiza nos tempos atuais. A Igreja nasce do espírito Santo, que transforma o pão e o vinho. A Igreja tem sua força na Eucaristia.
e) A consagração
Deve ser toda acompanhada por nós. É reprovável o hábito de permanecer-se de cabeça baixa durante esse momento. Reprovável ainda é qualquer tipo de manifestação quando o sacerdote ergue a hóstia, pois este é um momento sublime e de profunda adoração. Nesse momento o mistério do amor do Pai é renovado em nós. Cristo dá-se por nós ao Pai trazendo graças para nossos corações. Daí ser esse um momento de profundo silêncio.
f) Preces e intercessões
Reconhecendo a ação de Cristo pelo Espírito Santo em nós, a Igreja pede a graça de abrir-se a ela, tornando-se uma só unidade. Pede para que o papa e seus auxiliares sejam capazes de levar o Espírito Santo a todos. Pede pelos fiéis que já se foram e pede a graça de, a exemplo de Nossa Senhora e dos santos, os fiéis possam chegar ao Reino para todos preparados pelo Pai.
g) Doxologia Final
É uma espécie de resumo de toda a oração eucarística, em que o sacerdote tendo o Corpo e Sangue de Cristo em suas mãos louva ao Pai e toda assembléia responde com um grande “amém”, que confirma tudo aquilo que ela viveu.
Rito da Comunhão

A oração eucarística representa a dimensão vertical da Missa, em que nos unimos plenamente a Deus em Cristo. Após alcançarmos a comunhão com Deus Pai, o desencadeamento natural dos fatos é o encontro com os irmãos, uma vez que Cristo é único e é tudo em todos. Este é o momento horizontal da Missa. Tem também esse momento o intuito de preparar-nos ao banquete eucarístico.
a) O Pai-Nosso
É o desfecho natural da oração eucarística. Uma vez que unidos a Cristo e por ele reconciliados com Deus, nada mais oportuno do que dizer: Pai nosso... Esta oração deve ser rezada em grande exaltação, se possível cantada. Após o Pai Nosso segue o seu embolismo, ou seja, a continuação do último pensamento da oração. Segue aqui uma observação: o único local em que não dizemos “amém” ao final do Pai Nosso é na Missa, dada a continuidade da oração expressa no embolismo.
b) Oração pela paz
Uma vez reconciliados em Cristo, pedimos que a paz se estenda a todas as pessoas, presentes ou não, para que possam viver em plenitude o mistério de Cristo. Pede-se também a Paz para a Igreja, para que, desse modo, possa continuar sua missão.
c) O cumprimento da Paz
É um gesto simbólico, representando nosso bem-querer ao próximo. Por ser um gesto simbólico não há a necessidade em sair do local para cumprimentar a todos na Igreja. Se todos tivessem em mente o simbolismo expresso nesse momento não seria necessária a dispersão que o caracteriza na maioria dos casos. Também não é conveniente que se cante durante esse momento, uma vez que deveria durar pouco tempo. A música pode ficar para Missas celebradas em pequenos grupos.
d) O Cordeiro de Deus
O sacerdote e a assembléia se preparam em silêncio para a comunhão. Neste momento o padre mergulha um pedaço do pão no vinho, representando a união de Cristo presente por inteiro nas duas espécies. A seguir todos reconhecem sua pequenez diante de Cristo e como o Centurião exclamam: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo. Cristo não nos dá apenas sua palavra, mas dá-se por amor a cada um de nós.
e) A comunhão
Durante esse momento a assembléia dirige-se à mesa eucarística. O canto deve procurar ser um canto de louvor moderado, salientando a doação de Cristo por nós. A comunhão pode ser recebida nas mãos ou na boca, tendo o cuidado de, no primeiro caso, a mão que recebe a hóstia não ser a mesma que a leva a boca. Aqueles que por um motivo ou outro não comungam é importante que façam desse momento também um momento de encontro com o Cristo. Após a comunhão segue-se a ação de graças, que pode ser feita em forma de um canto de meditação ou pelo silêncio, que dentro da liturgia possui sua linguagem. O que não pode é esse momento ser esquecido ou utilizado para conversar com que está ao nosso lado.
f) Oração após a comunhão
Infelizmente criou-se o mau costume em nossas assembléias de se fazer essa oração após os avisos, como uma espécie de convite apressado para se ir embora. Esta oração liga-se ainda a liturgia eucarística, e é o seu fechamento, pedindo a Deus as graças necessárias para se viver no dia-a-dia tudo que se manifestou perante a assembléia durante a celebração.
Ritos Finais

“O rito de encerramento da Missa consta fundamentalmente de três elementos: a saudação do sacerdote, a bênção, que em certos dias e ocasiões é enriquecida e expressa pela oração sobre o povo, ou por outra forma mais solene, e a própria despedida, em que se despede a assembléia, afim de que todos voltem ás suas atividades louvando e bendizendo o Senhor com suas boas obras” (IGMR 57).
Para muitos, este momento é um alívio, está cumprido o preceito dominical. Mas para outros, esta parte é o envio, é o início da transformação do compromisso assumido na Missa em gestos e atitudes concretas. Ouvimos a Palavra de Deus e a aceitamos em nossas vidas. Revivemos a Páscoa de Cristo, assumindo também nós esta passagem da morte para a vida e unimo-nos ao sacrifício de Cristo ao reconhecer nossa vida como dom de Deus e orientando-a em sua direção.
Sem demais delongas, este momento é o oportuno para dar-se avisos à comunidade, bem como para as últimas orientações do presidente da celebração. Após, segue-se a bênção do sacerdote e a despedida. Para alguns liturgistas, esse momento é um momento de envio, pois o sacerdote abençoa os fiéis para que estes saiam pelo mundo louvando a Deus com palavras e gestos, contribuindo assim para sua transformação. Vejamos o porquê disso.
Passando a despedida para o latim ela soa da seguinte forma: “Ite, Missa est”. Traduzindo-se para o português, soa algo como “Ide, tendes uma bênção e uma missão a cumprir”, pois em latim, missa significa missão ou demissão, como também pode significar bênção. Nesse sentido, eucaristia significa bênção, o que não deixa de ser uma realidade, já que através da doação de seu Filho, Deus abençoa toda a humanidade. De posse desta boa-graça dada pelo Pai, os cristãos são re-enviados ao mundo para que se tornem eucaristia, fonte de bênçãos para o próximo. Desse modo a Missa reassume todo seu significado.
Ir. Charles
Bibliografia

Beckhäuser, Alberto. A Liturgia da Missa. Teologia e Espiritualidade da Eucaristia. Petropólis, Ed. Vozes, 1993.
Bíblia de Jerusalém. Paulus, 1996.
Cechinato, Luiz. A Missa Parte por Parte. Petrópolis, Ed. Vozes, 1979.
Duarte, Luiz Miguel. Liturgia: conheça mais para celebrar melhor. São Paulo, Paulus, 1996.
Instrução Geral ao Missal Romano(IGMR).
Góis, João de Deus. Breve Curso de Liturgia. São Paulo, Ed. Loyola, 1987.
Junior, Joviano de Lima. A Eucaristia que Celebramos: explicação popular da Missa. São Paulo, Ed. Paulinas, 1982.
Schnitzler, Theodor. Missa, mensagem de vida: entenda a missa para participar melhor. São Paulo, Ed. Paulinas, 1978.

domingo, 4 de novembro de 2007

Pronunciamentos do Santo Padre João Paulo II.

Il Signore è mia luce e mia salvezza, di chi avrò paura? Il Signore è difesa della mia vita, di chi avrò timore? Ascolta, Signore, la mia voce. Io grido: Abbi pietà di me! Rispondimi. Di te ha detto il mio cuore: "Cercate il suo volto"; il tuo volto, Signore, io cercherò.Non nascondermi il tuo volto, non respingere con ira il tuo servo. Sono certo di contemplare la bontà del Signore nella terra dei viventi. Spera nel Signore, sii forte, si rinfranchi il tuo cuore e spera nel Signore. Sì, spera nel Signore.


+Salmo 26 (27)Parrocchia di San Roberto Bellarmino ai Parioli, Roma, 2 marzo 1980 .






ABBÀ PATER




Attende, Domine, et miserere, quia peccavimus tibi.Liturgia quaresimaleNon enim accepistis spiritum servitutis sed accepistis spiritum adoptionis filiorum in quo clamamus.






Romani 8,15 ‡ Tu sei mio figlio, io oggi ti ho generato.


Salmo 2,7Io gli sarò Padre ed Egli mi sarà Figlio.


2 Sam 7,14 Sono parole profetiche: esse parlano di Dio, che è Padre nel senso più alto e più autentico della parola. Dice Isaia:"Signore, tu sei nostro Padre: noi siamo argilla e tu Colui che ci dà forma; tutti noi siamo opera delle tue mani". ‡Isaia 64,8Shema Israel!


‡Sion ha detto: "Il Signore mi ha abbandonato, il Signore mi ha dimenticato". Si dimentica forse una donna del suo bambino? Anche se ci fosse una donna che si dimenticasse, io invece non ti abbandonerò mai. ‡Isaia 49,14-15


Shema Israel!


‡È significativo che nei brani del profeta Isaia la paternità di Dio si arricchisca di connotazioni che si ispirano alla maternità.Gesù annuncia molte volte la paternità di Dio nei riguardi degli uomini riallacciandosi alle numerose espressioni contenute nell'Antico Testamento. Per Gesù, Dio non è solamente il Padre d'Israele, il Padre degli uomini, ma il Padre suo, il Padre mio.


Udienza generale, Città del Vaticano, 16 ottobre 1985Pater noster qui es in coelis, sanctificetur nomen tuum. Adveniat regnum tuum, fiat voluntas tua, sicut in coelo et in terra. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostri, et ne nos inducas in tentationem, sed libera nos a malo.


‡Matteo 6,9-13 San Pietro, Roma, 22 marzo 1995.






De todas já feitas, a mais bela!




LA LEGGE DELLE BEATITUDINI




‡Beati i poveri in spirito, perché di essi è il regno dei cieli.


Beati gli afflitti, perché saranno consolati.Beati i miti, perché erediteranno la terra.


Beati quelli che hanno fame e sete di giustizia, perché saranno saziati.


Beati i misericordiosi, perché troveranno misericordia.


Beati i puri di cuore, perché vedranno Dio.


Beati gli operatori di pace, perché saranno chiamati figli di Dio.


Beati i perseguitati per causa della giustizia, perché di essi è il regno dei cieli.


Beati voi quando vi insulteranno, vi perseguiteranno, e, mentendo, diranno ogni sorta di male contro di voi a causa mia.


Rallegratevi ed esultate, perché grande è la vostra ricompensa nei cieli.




‡Matteo 5, 3-12 San Lorenzo al Verano, Roma, 1 novembre 1981.


sábado, 3 de novembro de 2007


OS OBLATOS BENEDITINO DE SÃO JOSÉ.

1. O Oblato Beneditino de S. José é o cristão (leigo, militar, civil ou sacerdote) que, chamado por Deus, procura viver coerentemente o seu Batismo, a sua Confirmação e a Eucaristia dentro do espírito da Regra de São Bento; nos ditames desta encontra alimento e estímulo para tender à perfeição evangélica e à glorificação do Criador no meio militar ou onde o irmão se fizer presente, em seus trabalhos ou em seu lar.

2. A atitude de irmão oblação beneditino (ao Senhor) é decorrente, para todo cristão, de sua inserção na Igreja pelo Batismo e de sua participação na Celebração Eucarística. Com efeito, o cristão, na Santa Missa, renova sua oblação ao Pai, em união com a de Cristo. É essa oblação sacramental que o cristão deve reafirmar e exercitar no decorrer de sua vivência cotidiana.

3. O Oblato é membro de uma Comunidade Independente e com Instituto Próprio, porém esta ligada a um respectivo Mosteiro (no nosso caso ao Mosteiro de São Paulo). Participam dos bens espirituais do cenóbio e procuram, na medida do possível, acompanhar a vida do mosteiro e na sua Comunidade.

A palavra Oblato vem do latim oblatus, "oferecido". Na Regra de São Bento, tal vocábulo designa os meninos oferecidos por seus genitores para o serviço de Deus no mosteiro (cf. cap. 59; São Gregório Magno, Diálogos, I, II). Aos poucos o termo "Oblato" passou a designar fiéis que, desejosos de viver mais plenamente a vida cristã, se filiam a determinado mosteiro. Os que passam a morar no próprio cenóbio são chamados "oblatos regulares", ao passo que aqueles que continuam no século são ditos "oblatos seculares".


A OBLAÇÃO

1. A oblação é o ato pelo qual o irmão se oferece a Deus e se torna membro efetivo de da Comunidade na qual professa, se bem que a título diferente do monge.

2. O Oblato torna-se irmão dos monges e se considera como testemunha do espírito da Regra no mundo. Este liame não dispensa o Oblato das responsabilidades humanas (familiares, profissionais, sociais, etc.) e cristãs (eclesiais e paroquiais) nem o sujeita à jurisdição do abade ou Prior no nosso caso em particular.

3. Entre a comunidade monástica e o Oblato deve existir intensa comunhão de orações, sacrifícios e serviço.

4. A oblação não é profissão religiosa nem implica voto público ou particular; pressupõe, todavia, propósito maduro e estável da vontade, a Deus manifestado perante a Igreja e confirmado mediante rito sagrado.

5. O pedido do cristão para tornar-se oblata supõe a existência de laços espirituais com o mosteiro ao qual deseja vincular-se. Pode tornar-se Oblato todo fiel cuja maturidade espiritual, no julgamento do abade ou do seu delegado, seja capaz de pesar o alcance deste compromisso.

6. Só poderá ser recebido no noviciado o postulante que tiver completado dezoito anos de idade e não pertencer simultaneamente a uma Ordem Terceira.

7. Antes de chegar à oblação monástica, o candidato deverá percorrer um período de preparação, assim estruturado:

(1º) postulantado, que terá a duração mínima de seis meses e a máxima de um ano;

(2º) noviciado, que durará um ano, mas poderá ser prolongado a critério do mestre dos noviços dos oblatos, depois do que ou será admitido o noviço à oblação ou serão extintos os efeitos estatutários do noviciado.

8. O abade do mosteiro ou um monge por ele delegado exercerá as funções. Este procurará acompanhar o crescimento espiritual dos irmãos, dos noviços, dos postulantes e dos candidatos. Aos formandos, o Diretor ministrará regularmente conferências sobre a Santa Regra, os Salmos e outros temas relacionados com a vida monástica. O futuro Oblato deve aproveitar especialmente o período de formação para aprofundar-se no conhecimento da vida cristã e impregnar-se do espírito da Santa Regra. Para tanto, recorrerá à oração, ao estudo, às leituras, às reuniões e a outros meios convenientes.

9. Compete ao abade ou a seu delegado decidir sobre a admissão, ou não, de postulantes ao noviciado ou de noviços à oblação.

10. O Oblato poderá, se o desejar, transferir-se de um mosteiro para outro, desde que haja o consentimento dos respectivos abades.

11. A oblação realizar-se-á, de preferência, durante o Santo Sacrifício da Missa, para acentuar que está unida à oferenda de Cristo e da Igreja.

12. Na vestição e na oblação observar-se-á o Ritual próprio.

13. As cartas de oblação serão conservadas no arquivo da Comunidade, e os nomes dos oblatos ficarão inscritos em registro próprio. A cada Oblato será entregue um documento, testemunho de seu compromisso.

14. A oblação pode, em casos excepcionais, ser anulada pelo próprio Oblato ou pelo abade (prior). Mas nem o Oblato desista do seu propósito senão após madura reflexão, nem o abade demita um Oblato sem justa e grave causa.

15. Caso o deseje, o Oblato poderá ser sepultado com o hábito monástico (túnica, cíngulo, escapulário).


A CONVERSAÇÃO DOS COSTUMES

Da oblação decorre para o Oblato o dever de se aplicar fielmente à conversação dos costumes indicada por São Bento aos monges: cf. Santa Regra, Prólogo e cap. 58.

Por "conversação dos costumes" entende-se o modo de vida monástica exigido pela Santa Regra. Tal modo de vida, para os oblatos seculares, consistirá essencialmente na procura de constante conversão, na prática da oração, no cumprimento generoso dos deveres de estado e na convivência fraterna. Tais elementos são aptos a levar o Oblato à perfeição evangélica ou à santidade, termo ao qual todo cristão é chamado desde o momento do seu Batismo:

"Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade:. Constituição "Lumen Gentium" nº 40).

A santidade é, pois, a vocação suprema de todo Oblato. A Santa Regra não tenciona senão ajudá-lo a atingir essa meta suprema.


III. 1. A Conversão

1. A conversão significa a renúncia permanente ao velho homem e às suas concupiscências, passagem do egoísmo para o amor e dos valores mundanos para as bem-aventuranças. É a própria vivência do Batismo, que implica a morte ao pecado e ressurreição com Cristo para a vida nova.

2. A conversão é inseparável da prática da ascese. Diz o Santo Legislador que a vida do monge deveria ser caracterizada, em todo tempo, pela observância da Quaresma (Santa Regra, cap. 49). É necessário, pois, que o Oblato tenha em vista este traço da sua vocação e cultive a sobriedade, a simplicidade, a austeridade, e se abra docilmente às genuínas inspirações do Espírito.

3. O cap. 7 da Santa Regra, ao apresentar os doze graus da humildade, oferece ao Oblato as grandes linhas de um programa de renúncia a si para viver mais e mais em Deus. O Prólogo e o cap. 4 (sobre os instrumentos das boas obras) da mesma Santa Regra constituem outras tantas fontes de renovação interior e exterior.

4. Dois (entre os quais haverá Assembléias e capítulos) retiro espiritual por ano, de preferência com todos os irmãos, e um encontro mensal da Comunidade contribuem para a conversão dos costumes, aprofundamento e oração em comum e estreitamento dos laços da caridade fraterna que une os irmãos.

III. 2. A Oração

1. A oração é a procura da íntima união com Deus que se faz num diálogo pessoal e silencioso (oração particular) ou de maneira vocal e comunitária.

2. O centro da vida de oração é a Celebração Eucarística, de que o Oblato há de participar assiduamente. Destarte, a Santa Missa alimentará cada vez mais os pensamentos, os afetos e os atos do Oblato.

3. Em torno da Santa Missa coloca-se o Ofício Divino, pelo qual os filhos de São Bento nutrem especial estima, visto ser a oração oficial da Igreja. Por conseguinte, esforcem-se os oblatos por recitar diariamente ao menos uma parte do Ofício Divino sob qualquer das formas aprovadas pela Igreja.

4. Para que a oração vocal seja eficaz, torna-se indispensável a oração silenciosa. Esta pode ser compreendida sob a "lectio divina", à qual Nosso Pai São Bento atribui notável importância na Santa Regra (cf. cap. 42; 48). Esforcem-se, pois, os oblatos por ler e aprofundar, com a inteligência e o afeto, a Sagrada Escritura, à qual é muito desejável que dediquem, diariamente, certo espaço de tempo (cf. Concílio Vaticano II, Constituição "Dei Verbum" nº 25; Decr. "Perfectae Caritatis", nº 6). Tenderão a familiarizar-se, Outrossim, com as obras de espiritualidade mais notáveis da Tradição e da atualidade da Igreja. Além do que, estimarão grandemente boa formação teológica, valor esse que a Santa Igreja hoje em dia procura ministrar, sob variadas formas, a todos os seus filhos. Melhor conhecimento da Palavra de Deus, das ciências sagradas e da Santa Regra nutre a oração, corrobora a fé e incita ao testemunho apostólico.

III. 3. O Cumprimento dos Deveres de Estado

1. Se todo cristão leigo é chamado a impregnar do espírito evangélico as estruturas deste mundo, o Oblato é especialmente incitado a tanto por sua vocação beneditina, sabiamente expressa na fórmula "Ora et labora".

2. Vêem muito a propósito as palavras da Constituição "Lumen Gentium" do Concílio Vaticano II:

"Os leigos, por sua própria vocação, procuram o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no século, isto é, em todos e em cada um dos ofícios e trabalhos do mundo. Vivem nas condições ordinárias de vida familiar e social, pelas quais sua existência é como que tecida. Lá são chamados por Deus, para que, exercendo seu próprio ofício guiado pelo espírito evangélico, ao modo do fermento, de dentro, contribuam para a santificação do mundo. E assim manifestam o Cristo aos outros, especialmente pelo testemunho de sua vida resplandecente em fé, esperança e caridade. A eles, portanto, cabe de maneira especial iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas temporais, às quais estão intimamente unidos, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Cristo, para louvor do Criador e Redentor". (nº 31).

3. A propósito, leia-se também a Constituição "Gaudium et Spes", nº 44.

4. O trabalho não é somente necessidade de índole vital, mas é também ascese, ou seja, motivo de renúncia e de disciplina dos costumes. É no trabalho que se defrontam situações concretas de praticar a virtude. Em contraste, a ociosidade é declarada por São Bento "inimiga da alma" (Santa Regra, cap. 48).

5. O Oblato deverá dar testemunho de fidelidade a seus deveres de estado de modo que o seu lar mereça o honroso título de "igreja doméstica", que caracteriza a casa da família cristã.


O SENSO ECLESIAL

1. Mais do que nunca, é viva no povo de Deus, em nossos dias, a consciência de Igreja como comunhão e participação (cf. Documento de Puebla, passim).

2. Cumpre ao Oblato nutrir vivos sentimentos de filial fidelidade a Santa Igreja, pulsar com Ela, identificando-se com as intenções do Sumo Pontífice. Viverá, assim, também o espírito da Ordem de São Bento, que através dos séculos sempre foi esteio das grandes aspirações da Santa Sé e do Vigário de Cristo.

3. De modo especial, a fidelidade à Igreja traduzir-se-á em fidelidade ao magistério - ordinário e extraordinário - da Igreja. O Oblato, portanto, guardará em tudo a fé pura e haurida da voz oficial da Santa Igreja.

4. Aos oblatos não se impõe, por força da Regra, tarefa apostólica específica; porém, beneditinos que são, não deixarão de imprimir no seu apostolado os sinais característicos da espiritualidade que vivem, principalmente o amor à Sagrada Liturgia e à piedade cristocêntrica e trinitária.

5. O bom filho de São Bento no século não se pode eximir de responder aos apelos que a Santa Igreja hoje em dia dirige a todos os cristãos leigos, no sentido de que assumam sua responsabilidade pessoal na edificação e na difusão do Reino de Cristo. Eis as palavras do Concílio Vaticano II:

"A vocação cristã é, por sua natureza, também vocação para o apostolado. Como no organismo de um corpo vivo, nenhum membro se comporta de maneira meramente passiva, mas, unido à vida do corpo, também compartilha a sua operosidade, da mesma forma no Corpo de Cristo... Tão grande é neste corpo a conexão e a coesão dos membros (cf. Ef. 4, 16) que o membro que não trabalha para o aumento do corpo segundo sua medida, deve considerar-se inútil para a Igreja e para si mesmo". (Decr. "Apostolicam Actuosilatem" nº 2).

6. Adiante, o mesmo texto conciliar recorda que "a caridade é como que a alma de todo apostolado". (ib.3).

7. Eis, por que, é recomendada aos oblatos a consideração atenta das normas desse Decreto e o empenho em praticá-las.


O ESPÍRITO BENEDITINO

A tradição monástica formulou em palavras ou frases incisivas algumas das grandes características do espírito beneditino, que todo Oblato há de procurar observar.
A seguir, vão explanadas treze delas:

V.1. Ora e Trabalha

1. É o lema "Ora et labora" que dá estrutura a toda a vida do discípulo de São Bento.

2. A oração significa a atitude definitiva do cristão, principalmente sob a forma de adoração, louvor e gratidão ao Senhor. É ela que alimenta e aprofunda a união de da criatura com o Criador, e leva o cristão a participar, cada vez mais, da vida trinitária. É por isto que a oração ocupa o primeiro lugar na estima do Oblato.

3. O trabalho é forma de disciplina e ascese, como também de transformação do mundo segundo o plano e os desígnios do Criador. O Oblato se santifica não apesar do trabalho, mas mediante o trabalho. Este há de ser assumido não apenas como meio de subsistência, mas no intuito de servir a Deus e ao próximo. Quem ora devidamente, se habilita a trabalhar em espírito de louvor e adoração a Deus, como o fez o Divino Mestre quando se dignou trabalhar com mãos humanas, pensar com inteligência humana, agir com vontade humana, amar com coração humano (cf. Constituição "Gaudium et Spes" nº 22).

V.2. Em todas as coisas seja Deus Glorificado

1. Referindo-se ao trabalho dos artífices do mosteiro, São Bento recomenda aos monges que procurem vender os respectivos artefatos por preço módico "para que em todas as coisas seja Deus glorificado" (Santa Regra, cap. 57). Esta fórmula é inspirada pelo texto bíblico de 1Pd 4, 11. Em seu teor latino, veio a ser uma das expressões típicas do espírito monástico: "Ut in omnibus glorificetur Deus" (abreviadamente: U.I.O.G.D.)

2. A fórmula beneditina poderia ser aplicada a todas as prescrições da Santa Regra e a toda a vida do mosteiro. Este é concebido como escola do serviço divino (Prólogo), na qual tanto o Ofício Divino quanto as atividades aparentemente profanas têm por finalidade suprema dar louvor a Deus.

3. A espiritualidade monástica é essencialmente teocêntrica. O Oblato beneditino, mesmo vivendo no século, saberá traduzir este teocentrismo em atitudes e gestos concretos de sua vida.


V.3. Nada preferir ao Amor de Cristo

1. Esta norma, colocada no cap. 5 da Santa Regra, entre os instrumentos das boas obras, exprime fielmente o pensamento paulino de que está impregnada a espiritualidade beneditina.
2. Em Cristo quis o Pai, desde a eternidade, amar e abençoar cada ser humano (cf. Ef. 1,3-5). Nele, por Ele e para Ele tudo foi criado (cf. Cl 1, 16): tudo Nele subsiste (cf. Cl 1. 17). "Nele aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude" (Cl 1, 19). É por Ele que ousamos chegar-nos a Deus Pai confiantemente (cf. Ef 3, 12).

3. A presença central do Cristo na vida cristã é incutida também na Liturgia Eucarística, onde se diz: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo..."

4. Por conseguinte, compete ao Oblato procurar conhecer sempre mais profundamente o Cristo Jesus, não só por via intelectual, mas também mediante uma configuração crescente ao Senhor Jesus. Associe seus sofrimentos e suas alegrias aos do Cristo Jesus, procurando completar em sua carne o que falta à Paixão de Cristo, em prol da Igreja (cf. Cl 1, 24), certo de que, padecendo com Cristo, reinará também com Cristo (cf. 2Tm 2, 11; Santa Regra, Prólogo). Acompanhando diariamente o Cristo peregrino na Terra, aceite com serenidade a sua parcela da cruz salvífica, a qual se lhe transformará em árvore da vida e penhor de ressurreição.

“Por Cristo homem a Cristo Deus, E por Cristo Deus a Deus Pai”
Santo Agostinho
(Com a licença dos irmãos gostaria de indicar um filosofo neste capítulo)

V.4. Como Sagrados Vasos do Altar

No cap. 31, relativo ao celeireiro, São Bento recomenda que se considerem "todos os objetos do mosteiro e demais utensílios como sagrados vasos do altar". Tal visão de fé há de caracterizar também o Oblato. Nada é profano ou religiosamente neutro aos olhos do cristão e especialmente aos olhos do filho de São Bento. Ao contrário, a reverência incutida pela certeza da presença de Deus na oração acompanhar-lo-á na execução de suas tarefas, pois elas, a seu modo, contribuem para pô-lo em contato com o Senhor Deus e os valores eternos. E, de modo especial, São Bento convida seus discípulos a ver nos irmãos a presença de Cristo: assim, entre outros, no Abade (cap. 2), nos enfermos (cap. 16), nos hóspedes e nos pobres (cap. 53).

V.5. Nada em Demasia

1, Esta máxima de Cícero encontra-se no cap. 64 da Santa Regra, concernente ao Abade. Este, ao corrigir os irmãos, há de proceder prudentemente e não em demasia, para que, desejando raspar demasiado a ferrugem, não quebre o próprio vaso.

2. Tal fórmula tornou-se a expressão da famosa discrição beneditina, já muito exaltada por São Gregório Magno )cf. Diálogos, cap. 36, I, II). Esta discrição não significa mediocridade ou prudência acovardada e medrosa. Muito ao contrário: é a virtude que proporciona os meios ao fim respectivo e que, por isto, cria ordem e harmonia na vida beneditina. Essa proporcionalidade ou harmonia pode exigir renúncia e sacrifício; ela não somente é compatível com a ascese, mas pode fomentar a *ascese. É da discrição que decorre o senso estético que deve caracterizar a Liturgia e as expressões de um mosteiro beneditino. Os filhos de São Bento há de viver em harmonia e proporção - o que nada tem de afetado, mas implica pureza interior e dignidade de porte visível (no vestir-se, no falar, no recrear-se, no conversar...).
* Exercício prático que leva à efetiva realização da virtude, à plenitude da vida moral:
V. 6. Ser Primeiramente

1. No cap. 4 da Santa Regra. O Legislador exorta os monges a que "não queiram ser tidos como santos antes que o sejam, mas primeiramente sejam santos para que possam ser considerados como tais".

2. Esta norma traduz a aversão à aparência destituída de conteúdo, aos rótulos ilusórios ou contraditórios. Revela absoluta preferência pelo ser em relação ao ter. Em conseqüência, incute ao filho de São Bento a preocupação com a coerência de pensamento e vida. Sugere a honestidade incondicional de atitudes, de palavras e de ambiente. Evite o Oblato linguagem falsa, ambígua e vã.

3. O amor à autenticidade se exprime mais de uma vez na Regra de São Bento: assim, no tocante ao oratório ("seja aquilo que o nome significa"; cap. 52). Ao Abade ("faz as vezes de Cristo, porque é chamado pelo mesmo cognome que Este"; cap. 2), ao monge feito soldado do verdadeiro Rei (Prólogo) ou penetrado pela humildade (12º grau; cap. 17...)

V. 7. Nada Antepor ao Ofício Divino

1. Quer São Bento que o Ofício Divino seja a tarefa primordial do monge, tarefa que inspire e impregne todas as demais atividades.

2. O Oblato vê nesta norma também um traço da sua espiritualidade. Embora não esteja obrigado a celebrar o Ofício Divino no coro, deve fazer da oração (seja particular, seja comunitária) o centro de sua vida. Isto não requer que se dedique à oração o tempo que deveria consagrar a outros deveres, mas exige que a oração seja tarefa efetuada com o maior empenho e solicitude, diariamente, nas horas próprias. Assim procedendo, o Oblato estará dando a Deus o ligar primordial que a Ele compete, e se abrirá às graças que levas à perfeição ou santidade.

V. 8. Antecipem-se Uns aos Outros em Honra

1. Estas palavras, tiradas do cap. 72 da Santa Regra, sintetizam toda a doutrina da caridade fraterna, que é o coração do Novo Testamento e a característica principal dos discípulos de Jesus Cristo. Todo este capítulo, feito de máximas de grande densidade espiritual, deve ser freqüentemente meditado pelo Oblato e transformado em norma de vida cotidiana.

2. Membros da mesma família monástica concebam uns para com os outros genuíno espírito de fraternidade, que se traduzirá na assistência solícita aos enfermos, aos atribulados e a quantos sofrem as vicissitudes da vida. Este mesmo zelo existirá no Abade e no Padre Prior, que procurarão acompanhar cada um dos oblatos nos altos e baixos de sua caminhada, dando a sentir a cada um a presença da comunidade e dos valores da fé, principalmente nas horas difíceis. Tal tipo de assistência dos monges e dos oblatos avivará nos irmãos carentes a consciência de que somos membros uns dos outros e formamos um só corpo em Jesus Cristo (Rm. 12,5) e ainda de que "ninguém vive e ninguém morre para si mesmo, porque, se vivemos, é para o Senhor que vivemos, e, se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor" (Rm 14,7s).
3. A participação da comunidade fraterna na dor e, especialmente, nos momentos finais da peregrinação terrestre de um Oblato será, para este, o sinal vivo da sua pertença a Cristo e da sua comunhão com a Igreja peregrina em marcha para a Jerusalém celeste, à qual desde o Batismo cada um foi chamado. "Quanto me alegrei quando me disseram: Iremos para a casa do Senhor!" (Sl. 121, 1)

V. 9. Paz (PAX!)

1. A tradição associou a palavra PAZ ao ideal beneditino. Na verdade, a paz constitui o ambiente do mosteiro e, mais ainda, o estado íntimo dos seus moradores: os monges hão de cultivar a paz, ou seja, "a tranqüilidade na ordem" (Santo Agostinho) nas suas relações com Deus, com os irmãos, filhos do mesmo Pai, e com as demais criaturas.

2. Repetidamente a Santa Regra refere-se à paz como sendo uma das características do cenóbio e do monge: "Todos os membros estarão em paz" (Santa Regra, cap. 34; cf. cap. 53, Prólogo...)

3. O Oblato adotará mais este traço da espiritualidade monástica, que o Evangelho enfatiza na sétima bem-aventurança: os filhos de Deus são artífices da paz (cf. Mt. 5, 9). A paz e a discrição monásticas supõem harmonia, equilíbrio e proporcionalidade na escala de valores do Oblato. Esteja ele tão impregnado dos bens eternos que a sua mera presença já se torne sinal de ordem e tranqüilidade.

V. 10. Na Prontidão do Temor de Deus

Como tantas outras, esta palavra do cap. 5 da Santa Regra lembra ao monge e ao Oblato que sua vida deve ser guiada pelos dons do Espírito Santo. E o dom básico do temor de Deus é três vezes lembrado pela Sagrada Escritura como sendo "o começo da Sabedoria" (Sl. 110, 10: Pr. 1, 7; 9, 10). São Bento o apresenta como o móvel da prontidão monástica aos apelos de Deus, que lhe são dirigidos pela voz do Superior, pelo sino conventual ou pelas necessidades dos irmãos. É o segredo daquela solicitude que Nosso Pai deseja encontrar em seus filhos pelo Ofício Divino, pela obediência e pelos opróbrios (cf. Santa Regra, cap. 58). Por isso, a pontualidade deve ser uma característica da vida do Oblato, sinal dessa prontidão no serviço de Deus e dos homens.

V. 11. Seja Tudo Comum a Todos

1. Nos capítulos 33 e 34 da Santa Regra, são Bento estabelece a sua doutrina sobre a pobreza monástica: insiste na radicalidade do desprendimento dos bens materiais, cuja posse ele considera "vício que deve ser cortado do mosteiro pela raiz" (cap. 33). Encontra-se o espírito desta doutrina claramente revelado por Jesus em vários episódios evangélicos, principalmente no diálogo com o jovem rico e nos comentários seguintes feitos com os apóstolos (cf. Mt. 19, 16-30).

2. O Oblato que vive no mundo e que não é chamado ao radical despojamento monástico, deve, no entanto, aprofundar cada vez mais a "bem-aventurança dos pobres de coração", proposta por Jesus no Sermão da Montanha (cf. Mt. 5,3). Ao contrário do espírito do mundo que valoriza o ter, deve ele valorizar cada vez mais o ser e o seu compromisso de partilha e comunhão com os irmãos.
Sendo possuidor de bens materiais, sinta-se mais administrador do que dono, lembrado da palavra do Sumo Pontífice e Santo João Paulo II: “sobre toda propriedade particular pesa uma hipoteca social”.

3. São Bento chama de "presunção" o pensar que alguma coisa nos pertence (cap. 33) e nos lembra que a paz da comunidade depende de uma partilha de bens, conforme as necessidades de cada um.

V. 12. Perseverando no Mosteiro ou na Comunidade

No final do Prólogo, São Bento apresenta a perseverança e a paciência como a expressão da participação do monge nos sofrimentos de Cristo, penhor da comunhão com o Senhor na glória. Este é o sentido do voto de estabilidade que ele vai exigir de seus monges, em contraposição com os giróvagos, que se caracterizam pela instabilidade. O contato com o mosteiro será, para o Oblato, sinal da seriedade do propósito de buscar a Deus e de ser perseverante no esforço de conversão. A oblação, após prolongado período de reflexão sobre os preceitos da Regra, deve ser uma entrega total da vida a Deus, em comunhão com os irmãos que buscam o mesmo ideal, e que usam as fortíssimas armas da obediência (Prólogo). Tenha o Oblato presentes diante de seu coração as palavras de Cristo: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus" (Cl. 9, 62). Não confie nas próprias forças, mas, como afirmou no dia da oblação, se entregue humilde e corajosamente ao poder da graça divina, que trabalhará sem cessar no seu espírito aberto à ação do Espírito Santo.

V. 13. Glorificam o Senhor, que trabalha em seu Coração

1. Esta referência, quase literal, ao cântico de Maria na sua visitação a Isabel, é uma das mais belas sentenças da Santa Regra e pode ser apresentada como síntese da vida do monge e do Oblato. Com efeito, estes são chamados a glorificar a Deus, cantando os seus louvores, e deixando-o agir no íntimo da criatura pela graça do Espírito Santo.

2. A vocação a configurar-se a Cristo o Oblato a viver cada vez mais como filho de Maria. Jesus é todo Filho do Pai e Filho de Maria. Por conseguinte, o Oblato, à medida que for progredindo em sua vida espiritual, tomará consciência sempre mais nítida de que há de ser, para Maria, outro Jesus, filho devoto de Maria, em sua piedade dedicará à Mãe do Céu o lugar inconfundível que lhe cabe. Aliás, a tradição monástica sempre foi profundamente voltada para Maria Santíssima; tenha-se em vista os numerosos mosteiros a ela dedicados, assim como o título antigo "Rainha dos Monges".

3. O Oblato verá também em Maria Santíssima o exemplar de toda a Igreja e a consumação antecipada dos bens que esta possui germinalmente. Assim, a piedade para com Maria e a dedicação à Igreja se lhes tornarão inseparáveis.

CONCLUSÃO

Estas poucas palavras e o estudo da S. Regra, foram elaborados e feitos após duas belas e longas conferencias na Base Aérea de São Paulo, as conferencias foram feitas por Dom Cláudio (Monge da Abadia de S. Paulo) e por um dos Capelães e psicólogo da Área do IV Comar, deram a nossa comunidade uma nova visão e um parecer de vida comunitária, para que em tudo seja Deus glorificado.
Aqui termino.

Ir. Charles de S. Gregório.


A SACRALIDADE DA ARTA NA IGREJA DO ORIENTE
Uma tradição que também é nossa.


Um ortodoxo adora Deus como um artista, pois leva para o trono do seu Senhor as obras da sua imaginação criadora. As cores e os desenhos dos Ícones, o som dos cânticos sagrados, as cúpulas e os arcos dos edifícios dedicados à celebração do mistério divino não são um mero e útil estímulo para a Ortodoxia. Antes, formam uma parte integral e indispensável do culto, pois o homem é chamado a humanizar o mundo material e um dos meios à sua disposição é o poder transfigurador da arte.

A Tradição Ortodoxa incorporou a arte na sua vivência espiritual, na medida em que a Beleza é um dos nomes de Deus e onde há beleza há harmonia e Deus está presente. A Ortodoxia reconhece Deus como primeiro artista: "E Deus disse: haja luz. E houve luz. E viu Deus que era boa à luz". Deus criou o mundo e viu que era bom! O Criador de todas as coisas fez sua obra e a contemplou, portanto a arte tem a função sagrada de nos transmitir uma verdade; desta decorre a beleza de uma obra. Nesse sentido, a Arte Sacra ocupa um lugar de primeira ordem como verdade teológica e como transfiguração deste mundo pelo reflexo do amor divino.



ÍCONE: IMAGEM DO INVISÍVEL

Os Ícones são característicos da Arte Sacra e Litúrgica da Igreja Oriental. Quando penetramos num templo ortodoxo imediatamente percebemos inumeráveis ícones por toda a Igreja. É que o ícone é sinônimo de Arte Sacra Bizantina, onde teve sua origem e aperfeiçoamento, embora não esteja restrito a um lugar geográfico.

Bizâncio irradiou esta arte por todo o império Cristão e hoje se encontra em todas as Igrejas Ortodoxas ou Católicas de Rito Oriental espalhadas pelo mundo. A atualidade do ícone é surpreendente. Há um movimento de redescoberta das fontes da Cristandade e o Ocidente Cristão cada dia se extasia e surpreende com as riquezas dos ícones. Estes têm lugar e papel importantíssimo para a espiritualidade ortodoxa que podemos compreender o lugar que ocupa o Ícone, já que não existe nada semelhante na tradição religiosa ocidental, seja na forma artística, seja no conteúdo espiritual. De fato, para o Ocidente Cristão, o ícone é desconhecido e incompreensível até que se percebe sua função e sentido. É isto que eu proponho aqui, uma aproximação e penetração no mundo do Ícone.



O QUE É UM ÍCONE?

Esta é uma indagação básica que se faz em geral. A palavra ícone vem do grego EIKÓN, que significa imagem, palavra com amplas aplicações e que no Ocidente é extensiva às figuras com volume ou estátuas que representam o Cristo ou os santos.O Oriente Cristão não produz estátuas por considerar o volume como um passo para antropomorfizar a representação e deslizar para a “idolatria”. Um Ícone, portanto, é simplesmente uma imagem pintada sobre a madeira, com técnica muito especial e de acordo com cânones bem definidos quanto ao tema, composição, cor, harmonia que se pretende pintar.



O QUE NÃO É UM ÍCONE

Para o Cristão ortodoxo é difícil definir o que é um ícone, porque para eles o ícone é uma experiência pessoal, a contemplação através da pintura. Portanto, só podemos defini-lo negativamente, ou seja, não é um retrato, não se pintam sentimentos ou emoções. Não se adora o ícone, não há risco de idolatrar a pintura, pois essa representa uma imagem - um protótipo, um modelo - na realidade, venera-se a pessoa representada, não o objeto em si. O Ícone é uma presença misteriosa que não se define. O Ícone não é um simples estilo artístico nem um modo histórico de arte, não está preso a um tempo específico.



QUAL O FUNDAMENTO DO ÍCONE

No Antigo Testamento Deus proibiu qualquer representação ou imagem divina (Ex.20). A pedagogia Divina levou os hebreus primeiro a escutar a voz de Deus (Dt. 4 12-15). Começa aqui o início da experiência pessoal com Deus. Não se podia representar Deus porque Ele nunca fora visto por ninguém. Os homens são conduzidos e preparados para o encontro verdadeiro com Cristo, que nos revela a verdadeira imagem de Deus. "Cristo é a imagem de Deus invisível" (Col. 1, 15). É na Encarnação do Verbo de Deus feito homem que podemos pintar sua imagem. Sendo o ícone a revelação do Invisível, a Iconografia é aos olhos o que a palavra é para o ouvido.



QUAL A FUNÇÃO DO ÍCONE?

O ícone tem uma função sacramental, na medida que reflete o divino, o atemporal e nos remete para a eternidade, da qual o ícone é uma janela.O Ícone possui uma beleza que não reside na estética do quadro, mas sim na verdade teológica que nos comunica. Não tem nem sequer função didática de ensino religioso, embora possamos aprender com ele. O que o Evangelho proclama com a palavra, o Ícone o anuncia com cores e o faz presente. Nas palavras de São João Damasceno, "o Ícone é um canal de graça com poder santificador", na medida que nos comunica a Luz Divina, atributo da glória do Reino de Deus. Diante do Ícone o recolhimento e o silêncio nos abrem à luz da transfiguração aos nossos olhos e nos permitem contemplar uma beleza que não é deste mundo.O Ícone é um testemunho do Poder Santificador do Espírito Santo na santidade dos santos e a certeza de que os homens podem seguir a mesma trilha aberta por Cristo.



HISTÓRIA DOS ÍCONES

É difícil definir quando começou a pintura de ícones. Uma tradição muito difundida atribui os primeiros ícones ao evangelista São Lucas, que sendo muito amigo da Virgem Maria, teria pintado vários ícones da Virgem, que gostou muito, abençoou e agradeceu.

Outra tradição relaciona os ícones com a imagem aerobita (Santa Face não pintada por mão humana) enviada por Cristo ao rei Abgar de Edessa. A lenda menciona que Abgar estava leproso e queria curar-se. Enviou uma delegação à Palestina pedindo a Cristo cura e um retrato Seu. Cristo atendeu e enviou-lhe um pano onde tinha enxugado o rosto e aí ficaram impressos os Seus traços.


Há uma tradição latina que menciona um episódio da Paixão de Cristo. Diz que Santa Verônica (que talvez signifique "vero ícone", verdadeira imagem) enxugou o rosto do Senhor, tendo esse pano retido a imagem de Cristo.

Houve Concílios que regulamentaram a confecção dos Ícones, como o de Trullo em 691, que defendeu uma doutrina cristológica do Ícone. Mas o Ícone viveu um período de contestação chamado precisamente de iconoclasta, ou seja, destruidor de Ícones. A guerra às imagens foi declarada pelo Imperador bizantino Leão III, em 725. As sagradas imagens foram condenadas, dando lugar à perseguição, morte e desterro dos defensores dos Ícones. Essa guerra foi declarada sob acusação de idolatria e esta querela durou mais de um século. Mesmo assim, em 787 celebrou-se o Concílio de Nicéia, que condenou os iconoclastas e justificou o culto dos Ícones.

Por fim, em 843, no primeiro Domingo da Quaresma, através da Imperatriz Teodora, foi restabelecida veneração às imagens, e celebrada solenemente nesta ocasião o "triunfo da Ortodoxia". Esta festa se celebra ainda hoje todos os anos e é denominada "O Dia da Ortodoxia".



QUEM PINTA OS ÍCONES

O Ícone só tem fundamento na Igreja, ou seja, é dentro da Tradição da Igreja “Ortodoxa” num contexto especial que surge o Ícone. O iconógrafo é alguém autorizado e avaliado por uma autoridade da Igreja para tal propósito; segue uma aprendizagem artística específica, quanto à técnica propriamente dita e segue recomendações espirituais, para poder realizar sua obra: orações, jejum, leitura e meditação bíblica.

O pintor de Ícones deve ser humilde, manso e piedoso - não deve ser charlatão, nem briguento, nem invejoso, nem bebedor, nem ladrão. Deve guardar a pureza espiritual e corporal.



O ICONÓGRAFO E A TRADIÇÃO

É importante frisar que o iconógrafo tem seu fundamento na Tradição espiritual da Igreja. Esta define não como conservação de uma herança passada, mas bem uma "transmissão", uma atualização da herança viva. O Ícone é uma das expressões da Tradição Sagrada da Igreja, o mesmo que a tradição escrita e a oral. O significado da palavra iconógrafo é "o que escreve os ícones" e deve ter uma preparação espiritual em contato direto com a Igreja, que o abençoa e orienta no seu trabalho artístico. Portanto, o conteúdo espiritual do ícone reside na fidelidade à tradição da Igreja, que define através de uma série de cânones e prescrições, os limites dentro dos quais o gênio do artista se movimenta, que é menos individual e mais teológico. No Ícone o artista é quase anônimo, ele é um instrumento para o Espírito Santo agir, emprestando-Lhe seu talento particular. Nenhum iconógrafo pretende ser "um artista original"; isto é completamente alheio à finalidade do Ícone.








AS ESCOLAS ICONOGRÁFICAS

Existem muitas escolas iconográficas. As principais são as eslavas e as gregas, que deram origem a uma grande diversidade de escolas. [...] O ícone é uma obra de arte que ultrapassa a própria arte: longe de ser somente de ordem estética, a mensagem do ícone é de ordem teológica. E por isso o ícone fala aos homens de nosso tempo, assim como falou aos homens de outrora.Imagem do invisível, janela para o infinito, a iconografia nasce da memória dos primeiros cristãos e enraíza-se no evangelho e na liturgia. Apenas por sua existência, cada ícone evoca o mistério da encarnação.



Qual o significado do Ícone?

A arte do Ícone é um apelo para que o cristão que o contempla se distancie dele e purifique os seus sentidos, de tal modo que possa contemplar nessa manifestação artística a própria Pessoa divina [que vem] até nós sob uma forma humana, a de Jesus Cristo. No seio da Igreja Ortodoxa o Ícone recebe a mesma veneração que as Sagradas Escrituras, porque as imagens exprimem através das suas cores e do simbolismo das suas formas o mesmo que a palavra escrita nos anuncia. Isto é, o Ícone procura exprimir o inexprimível; e isso se tornou possível desde que o Filho de Deus encarnou e Se fez Homem (na Antiga Lei era proibido fazer imagens por existir o perigo de idolatria, ou seja, da adoração dos ídolos: de fato, no Velho Testamento Deus revelava-Se aos homens sobretudo através da Palavra - mas depois a Palavra fez-Se carne, com Jesus Cristo).

De certo modo podemos dizer que Cristo encarnou, tomou um corpo, para nos mostrar a figura "humana" de Deus-Pai - Ele que nos criou à Sua imagem e semelhança.

"Ícone" significa exatamente "imagem". Assim, o Ícone de um Santo representa a imagem, simultaneamente terrestre e celeste, desse Santo, a sua imagem pura e integral. Podíamos, aliás, dizer que no Ícone a imagem humana é pintada como ela era na origem, na Criação do Mundo, liberta das leis da matéria resultantes da Queda. O que o Ícone nos mostra não é uma realidade do Mundo que nos rodeia: é uma "janela" que se abre para o Céu. E a imagem aí representada é a de uma criatura celeste, rodeada de luz (é essa a razão do fundo dourado que vemos, geralmente, em cada Ícone).

No caso de um Ícone de Cristo, o que contemplamos não é a sua natureza divina nem a sua natureza humana; é, sim, o próprio Verbo de Deus encarnado, tendo o divino e o humano reunidos em Si. Deste modo, a fotografia de um santo dos nossos dias não pode servir de Ícone (isto é, de imagem sagrada) porque a fotografia é uma imagem exclusivamente terrestre do homem. O mesmo se poderia dizer das esculturas, igualmente representações exclusivas da humanidade de um Santo. E ainda por cima, susceptíveis de incitar o crente à idolatria.

Deve-se acrescentar que a veneração das Santas Imagens (Ícones) é um dogma de Fé, assim formulado pelo 7. ° Concílio Ecumênico: "Os santos e preciosos Ícones devem ser colocados nas igrejas, casas, estradas, quer sejam Ícones de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo ou da nossa Soberana e sempre Virgem, a Santa Mãe de Deus, ou dos Santos Anjos e dos Homens Santos e Veneráveis. Porque, cada vez que vemos a sua representação pela imagem somos incitados a contemplá-los, a lembrarmo-nos dos modelos, e adquirindo assim mais amor por eles, somos ainda levados a render-lhes homenagem, beijando-os e testemunhando nossa veneração, não a verdadeira adoração que, segundo a nossa fé, convém apenas à natureza divina, porque a honra dada à imagem vai direta ao seu modelo e aquele que venera um Ícone venera a pessoa que se encontra nele representada".
Ir. Charles de S. Gregório.